Já tinha o Hacker de Araraquara, que usava Windows e era uma espécie de Forrest Gump da política nacional. Tudo que envolvesse hackeamento, ele estava lá. Até Bolsonaro, ao invés de agir na surdina e através de terceiros para espionar o Xandão, teria marcado um encontro com o cara no Planalto e lhe perguntado o que fazer.
Lugar em que surgem figuras assim geralmente está sob o efeito de forças que podem gerar aberrações similares. Mas ninguém imaginaria que a terra da Ferroviária contivesse algo tão absurdamente fora dos trilhos como o Sogro de Araraquara.
Ele não é só um depravado incomparável. O Sogro é um debochado contido, dono de uma ironia autossuficiente que ninguém além dele entendia. Vejam a mensagem da foto acima. E esta outra, em que parabeniza o genro pelo carro novo: "Quando minha filha te apresentou eu fui rígido e disse que faria com você o que você fizesse com ela."
Sutil quando escreve, esse paradoxo ambulante é grosseirão e não mede palavras ao falar. A cena que inicia o relato da filha é emblemática: o genro caminhando sem jeito numa calçada e ele na outra, reclamando, aos berros, que eles tinham acabado de sair do motel a pé porque "esse tranqueira" não havia abastecido o carro.
Uma espécie de Carlos Imperial meio gay e muito mais pobre, Sogro tem uma história que poderia virar roteiro de cinema com mínimas alterações. Uma versão caipira de Feios, Sujos e Malvados talvez caísse bem. Mas creio que o ideal seria entregar a direção do projeto para o Quentin Tarantino.
Nas mãos do mestre, aquela cena em que ele queima o carro do genro e apanha dos vizinhos se transformaria numa matança generalizada entre os moradores da vila. E provavelmente haveria uma segunda história, alternativa, que vai se intercalando com a primeira.
Pois o roteiro do Sogro é tão bom que até isso já existe! Ontem mesmo, passou a circular pelas redes o depoimento de um tal Vincicorsii, segundo o qual este caso aconteceu há quase um ano e os fatos são um pouco diferentes. Para dar uma ideia, a personagem mais maléfica da sua narrativa é a vítima da outra: Filha.
Agressiva, ela teria até matado pessoas por motivos banais e costumava frequentemente brigar com o namorado. Numa dessas brigas, ele a agrediu e ela perdeu a criança que estava esperando, levando Sogro e sua esposa a fazerem campanha pela prisão de Genro, o que afinal conseguiram.
Como o namorado não conseguia trabalho após cumprir sua pena e onde passa um boi passa a boiada, Filha sugeriu que ele aproveitasse o fato de ter sido violentado na prisão para trabalhar como garoto de programa. Genro aceitou e Sogro se tornou um de seus clientes, filmando seus encontros para humilhá-lo e mantê-lo sob ameaça.
Acontece que o coração tem suas próprias razões. O ódio transformou-se em amor. Sogro apaixonou-se por Genro, passou a vender bens para pagar seus serviços, perdeu tudo o que tinha, faliu. Sem dinheiro, Genro o deixou. E ele se vingou enviando as imagens guardadas para Filha, separando definitivamente o casal.
Sogro passou meses entre a vida e a morte após a surra que levou, mas acabou por se recuperar. Genro teria virado morador de rua e desaparecido do mapa. Filha está na cadeia, cumprindo pena por um dos assassinatos que cometeu.
Chamem o Tarantino, por favor.
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