A invasão de campo e a briga generalizada entre torcedores de Cruzeiro e Coritiba não deixou de ser noticiada. Mas, no geral, o foi de maneira secundária, sem gerar manchete ou virar assunto quase obrigatório de colunistas da área. Quem não acompanhou a programação esportiva de ontem pode nem saber do que se trata.
Como seria diferente se tudo tivesse acontecido um tempo atrás! O SporTV pararia as máquinas para falar do assunto. Claro que existe a emocionante disputa pelo título, a luta para não cair e tudo o mais, mas precisamos entender o que está acontecendo em nosso país, diria um compungido André Rizek.
Os demais acompanhariam o discurso com ar de gravidade e logo depois concordariam que essas coisas não acontecem assim do nada, mas como reflexo de um mal que se entranhou profundamente entre nós. Somos hoje uma sociedade doente, eles concluiriam, deixando subentendido que devíamos tomar o remédio para nos curar.
Com a língua mais solta e as costas quentes do UOL, Casagrandes, Kfouris e Millys estariam hoje escrevendo que já viram brigas de torcida no passado, mas nunca com o ódio de agora, que é, naturalmente, apenas um reflexo daquele que emana do ocupante mais importante do Planalto.
Seria assim... se o presidente fosse Bolsonaro. Como não é, eles mal falam do assunto. E, quando o fazem é como se estivesse tratando de uma expulsão polêmica ou, no máximo, para criticar os dirigentes dos clubes, a CBF ou os integrantes das torcidas organizadas. Qualquer um serve, menos o presidente da República.
O mesmo acontece, há meses, com as queimadas que se espalham pela Amazônia e sufocam cidades como Manaus. Ou com os garimpeiros ilegais que invadem reservas indígenas. Ou com o crescente domínio da região pelas centrais criminosas do PCC e do CV, que agora trazem por lá a mercadoria dos traficantes colombianos.
O silêncio da imprensa é quase total, sem as redes sociais talvez você não soubesse o que acontece por lá. Porém, de novo, imagine se fosse no tempo de Bolsonaro. E se os tais "traficantes colombianos" (que são as FARC) participassem de um grupo com o qual Bolsonaro se reúne há décadas para traçar estratégias comuns.
E se além dessa ligação indireta houvessem outras mais diretas? Se as centrais criminosas brasileiras recomendassem o voto em Bolsonaro e fossem obedecidas? Se os únicos lugares em Bolsonaro conseguisse andar sem medo de ser vaiado fossem aqueles dominados por essas gangs? E se ainda houvesse mais?
Pense, por exemplo, como estaria sendo noticiada a revelação de que a "dama do tráfico amazonense", esposa de um líder do Comando Vermelho, vem sendo normalmente recebida por assessores do ministro da Justiça, em reuniões que são omitidas da agenda oficial embora aconteçam no prédio do ministério.
Seria manchete, ganharia meia edição do Jornal Nacional. Qualquer dos fatos aqui citado seria considerado escandaloso. Mas agora tudo mudou, eles só aparecem, quando aparecem, lá no cantinho e muito de vez em quando. No fundo, é como se não fossem notícia. Antes eram, agora não são mais.
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