terça-feira, 14 de novembro de 2023

Fogo na floresta

Não tem preço ver o tuíte da Folha levando nota de correção. Os caras insistem em dizer que a cidadã que se reunia com o pessoal do maranhense com sobrepeso e celulite na cara é esposa de um "suposto" líder de facção criminosa. E a nota corrige a desinformação parcial, salientando que o sujeito já foi até condenado por isso.

Em outro tuíte, a chamada para um artigo sobre queimadas não tem nota de correção. Mas tem comentários, mais de 200, praticamente todos lembrando que até o ano passado o jornal tratava essa destruição como responsabilidade direta do presidente da nação, mas hoje nem menciona o ocupante do cargo.

O estagiário que nasceu na era das redes acha normal, mas imagino o que detalhes como esses devem irritar a macacada velha instalada nos galhos mais altos: "Os caras agora vêm nos corrigir dentro de casa e a gente não pode evitar! Onde está a nossa antiga liberdade de manipulação? Maldito Musk! Maldita internet!"

E como manipulam. Nesse assunto é fácil, basta escolher um período, um evento e uma região para obter a manchete que interessa. Mesmo quando eles diziam que as girafas da Amazônia estavam sendo assadas, os dados mais amplos mostravam que praticamente todos os recordes de queimadas eram dos governos petistas.

Agora não é diferente. Olhando rapidamente reportagens recentes, em abril o G1 festejava a queda do número de queimadas... naquele mês em relação aos anos anteriores. Quer dizer, em janeiro, fevereiro e março não deu para comemorar.

Mais. Os números deste abril são menores que os dos últimos três anos (particularmente do último, que saiu da curva), mas maiores que o de abril de 2019. Se eles fossem malandros para o outro lado poderiam com mais razão manchetear: "Primeiro ano de Lule tem mais queimadas que o primeiro de Bolsonaro."

Porém não para por aí. A redução de queimadas citada na reportagem ocorre na Amazônia. No Pantanal, onde as áreas afetadas são maiores, elas só aumentam desde que o desgoverno começou. Se você juntar tudo, as áreas queimadas no mês em questão somam os seguintes totais em km²:

2019 - 2.050

2020 - 1.669

2021 - 1.716

2022 - 2.912

2023 - 2.421

Agora, no UOL, eles estão festejando a redução do desmate na Amazônia, da derrubada de árvores com motosserra. Esse realmente tem caído, caiu até mais no primeiro semestre, quando, segundo o Nexo Jornal, afetou 2.649 Km², número um terço menor que o do ano passado. Mas as queimadas aumentaram 14%, chegando a 14.500 km².

Fazendo as contas, a floresta amazônica diminuiu 16.692 km² no primeiro semestre do ano passado e 17.149 Km² no deste ano. Mas o truque consiste em pegar o período certo e atribuir apenas o desmatamento à ação do presidente, tratando as queimadas como um fato da natureza que ninguém pode evitar.

Tudo bem, é uma maneira de encarar o tema, só que antes eles diziam que as queimadas eram responsabilidade do presidente. O que mudou de lá para cá? É o perguntam centenas de comentaristas que escancaram a parcialidade que eles pensavam estar espertamente escondendo. Maldito Musk! Maldita internet!


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