quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Alvo atingido

Imagine como teria sido a história humana sem a invenção do arco e flecha, pense na genialidade do desconhecido que criou o primeiro deles, em como ele teve a ideia de combinar elementos que já existiam naquela sociedade primitiva, unindo pioneiramente um galho flexível, uma corda e uma pequena lança.

Desconhecido ou desconhecidos, quando se trata de coisas tão antigas nunca se sabe se uma tribo foi copiando a novidade apresentada pela vizinha ou se pessoas afastadas umas das outras chegaram sozinhas às mesmas conclusões. Um problema que também afeta o caso que passamos a apresentar.

Aquele corrupto e lavador de dinheiro estava, como diz o refrão, em seu lugar, na prisão de Curitiba. Seus adoradores alugaram uma casa nas proximidades e o saudavam em jogral a cada amanhecer. Fanáticos e subordinados o visitavam todos os dias. Outros o tratavam como um mártir abnegado, cuja importância era reconhecida pelo mundo.

Os argentinos se destacaram neste quesito. Um inventou que o papa havia lhe enviado um crucifixo. Outro, Adolfo Pérez Esquivel, usou seu direito de antigo vencedor do Nobel da Paz para lançar o presidiário como novo candidato ao prêmio. E assim ele efetivamente se tornou um dos 302 que o disputaram naquele ano.

Para qualquer pessoa normal, sempre foi óbvio que o sindicalista malandro não tinha a mínima chance de ficar entre os finalistas. Mas era necessário zoar adequadamente os debiloides que acreditaram no contrário. E foi durante esse processo que eu tive o meu momento arco e flecha.

O comitê do Nobel da Paz não estabelece um ranking entre os candidatos. Mas, como piada, por que não inventar que o presidiário havia sido classificado nas últimas posições? Ele seria o de número 302? Não, pareceria exagerado, perderia a graça. 300? Muito redondo, idem. O certo era 299.

Lancei a inovação nos poucos lugares em que comento: entre 302 candidatos ele obtivera o 299° lugar. E aí não sabemos se ela foi se disseminando de tribo em tribo ou se outras pessoas tiveram a mesma ideia e concluíram que o melhor número era esse, mas o fato é que eu sou ao menos um dos criadores da primeira versão desse arco.

Claro que eu nunca pensei que alguém fosse levar isso a sério e creio que meus possíveis colegas também não. Mas, ontem à noite, mais especificamente às 22:15, o site da Foice publicou a seguinte manchete:

Nobel da Paz só divulga indicados ao prêmio após 50 anos, diferentemente do que alega post sobre Lula.

No texto (aqui), o jornal conta que o tal Comprova descobriu que, ao contrário do que dizem antigas postagens, o Molusco não ficou na 299ª colocação. Fantástico! A próxima descoberta desse pessoal deve ser de que aquele gordão que aparece de bunda de fora em posts do Joaquin Teixeira não é ministro de ninguém.

Mas o que eu queria saber o Comprova não diz. Quem realmente criou a versão que teria se espalhado por aí? A minha foi a fundamental ou morreu na casca nas vizinhanças, tendo apenas coincidido acidentalmente com a que se espalhou? Nós inventores, do arco e flecha ou de piadas, sempre temos essas dúvidas.

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