sábado, 7 de outubro de 2023

Toca pra Brasília!

Todos sabem que foi em setembro de 2001 que a turma da toalha na cabeça (by Paulo Francis) sequestrou os aviões lançados contra as Torres Gêmeas e outro que se encaminhava para Washington quando os passageiros, percebendo que morreriam de qualquer maneira, decidiram reagir e o fizeram cair antes.

O que a história esqueceu é que o inspirador dessas ações foi um brasileiro, Raimundo Nonato Alves da Conceição, que, apenas treze anos antes, em setembro de 1988, sequestrou um avião com passageiros para lançá-lo contra o Planalto e matar o então presidente José Sarney.

Tratorista desempregado, ele culpava o mandatário por sua situação. Armado com um 32, sequestrou o voo da Vasp que ia de Porto Velho para o Rio de Janeiro, baleando dois comissários que tentaram impedi-lo de entrar na cabine de comando e matando o co-piloto Salvador Evangelista, que tentava se comunicar com o Cindacta.

Foi o piloto, Fernando Murilo de Lima e Silva, que conseguiu passar disfarçadamente o código que indicava o problema ao controle aéreo e, posteriormente, convenceu Raimundo Nonato de que as condições atmosféricas não lhe dariam visibilidade suficiente para atingir o Planalto.

Após várias peripécias, com pouco combustível e um motor falhando, eles acabaram por aterrissar em Goiânia. Com o avião cercado, depois de horas de negociação, Raimundo Nonato desceu usando o piloto como escudo humano. Mas acabou baleado por atiradores de elite e preso.

Tão desconhecida do mundo quanto a importância de Santos Dumont na invenção do avião, essa história de pioneirismo brasileiro será contada em O Sequestro do Voo 375, que estreia nos cinemas em dezembro. Se o pessoal que idolatra os Irmãos Wright tivesse prestado atenção aos verdadeiros inovadores, as torres ainda estariam lá.

Voo rápido

Raimundo Nonato sofreu uma cirurgia e sobreviveu aos ferimentos. Dias depois, no entanto, faleceu no próprio hospital em que estava internado devido a uma anemia falciforme, provavelmente agravada por alguma infecção. Reclamou da inflação do Sarney e dançou pela incompetência governamental na saúde pública.

Dá para imaginar os passageiros percebendo o que acontecia e um deles propondo que eles reagissem como os americanos no caso do avião desviado para Washington? Até dá, mas aí o filme seria de comédia. Mesmo com o próprio pescoço em risco, nenhum se abalaria para proteger a capital ou seu presidente.

Nos dias de hoje, algo assim dificilmente aconteceria. Novas providências de segurança foram tomadas (depois de 2001, não de 1988) e, principalmente, o Nine quase não aparece mais em Brasília. Seria mais fácil tentar bater o avião sequestrado em pleno voo contra o Air Force 51.

Se o filme saísse nas redes sociais, Dino diria que ele é coisa de CAC bolsonarista querendo dar ideia contra seu chefe e nós precisamos de mais censura. Mesmo restrito aos cinemas, ela ainda pode ser visto pelos petistas como uma ameaça comparável a O Som da Liberdade. Nunca despreze o fanatismo dos caras.

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