A CGU acaba de anunciar o 7º Concurso de Vídeo 1 Minuto Contra a Corrupção. Ficção, clip, publicidade ou documentário, o tema é livre. Mas, além de durar exatamente um minuto, cada vídeo deve "promover a conscientização para a prevenção e o combate à corrupção, bem como o estímulo da integridade pública e a cidadania".
As inscrições vão até 31 de outubro, cada concorrente pode apresentar até dois vídeos e eu já criei o roteiro do meu primeiro, obviamente preparado para agradar ao júri petista e ser premiado. Um minutinho, tudo rápido, vamos lá.
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Tunc, tunc, tunc! Noite, balada, canhões de luz, bebidas, risadas, ambiente inclusivo com pessoas de todos os tipos e todes os tipes dançando e conversando animadamente. João Fernando, loiro, alto, cumprimenta amigos ao chegar e já bate o olho em Luís Carlos, homem negro e baixo, que retribui sua atenção.
Sempre em meio à multidão, no instante seguinte eles são apresentados por uma mulher trans, amiga comum. No próximo estão dançando, no outro se beijando com paixão. Logo estão saindo da boate com aquele som abafado ao fundo: tunc... tunc... tunc. Cada um pega sua bike e os dois se afastam pedalando pela rua deserta.
"Aluga-se quartos" diz o luminoso do hotelzinho em cujo interior os reencontramos na recepção acanhada e mal iluminada, decorada apenas com um crucifixo e uma fotografia do dono com casaco de couro em meio a um grupo de motoqueiros. João Fernando está pagando o valor solicitado e diz:
- O senhor me dá a nota fiscal, por favor.
O proprietário, barriga ameaçando sair da camiseta, palito nos dentes, barba por fazer, olha para ele com estranheza e responde:
- Que nota, meirmão? Eu não sustento político malandro, não. Aqui é liberdade econômica, eu e você nos acertamos, não precisamos de governo nenhum pra roubar nossa grana.
- Mas o senhor não acha que nós estamos dentro de uma sociedade, de uma estrutura maior que tem um custo e deve ser mantida e aperfeiçoada?
- Acho e mantenho, mas honrando Aquele que tudo criou. Não atraso um dízimo, pode perguntar pro meu pastor. Agora, dinheiro pra corrupto eu não dou.
- Só que isso que o senhor está fazendo também é corrupção. Às vezes nós acusamos injustamente um político preocupado com as necessidades do povo e nós é que cometemos os malfeitos que os inimigos lhe atribuem.
- Bom, eu trabalho do meu jeito. Você é que sabe, é pegar ou largar.
João Fernando se vira para Luís Carlos e esboça um sorriso ao perceber no semblante do companheiro a mesma integridade que norteia seus atos. Os sorrisos se tornam abertos, eles pegam o dinheiro de volta e saem pela porta sem nada dizer ao hoteleiro que os observa igualmente quieto, estupefato com aquela demonstração de cidadania consciente.
Na cena final elas estão na praia, uma deitada sobre a outra. As bikes, quero dizer. A câmera vai abrindo e mostra JF e LC ao lado, sentados de mãos dadas, olhando para o mar. Um pipoqueiro passa com seu carrinho rumo ao trabalho. Um velhote de calção passa em direção contrária com aquele passinho de corrida-caminhada. Ao fundo, o sol do novo dia começa a se erguer.
Nos segundos restantes, em rápida sequência, aparecem os créditos da produção. Em primeiro lugar, naturalmente, o título: O Amor Pode Esperar.
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