terça-feira, 17 de outubro de 2023

Fugiu do leão e perdeu o cavalo

Se você quiser que a aldeia reconheça sua coragem tem que enfrentar o leão que está comendo as ovelhas. Agora imagine que o cara tem essa intenção, mas faz de conta que o leão não existe, não vai além da ameaça de liquidar a capivara que destrói a lavoura e acaba só por enxotar o vira-lata que zanzava pela rua.

O cachorrinho é a retirada dos brasileiros que estavam em Israel e não foram atingidos pelos ataques terroristas. O pessoal tomou um susto porque o país entrou em guerra, mas não estava ou está sob ameaça de ser atacado, a maioria só perdeu o voo e ficou sem dinheiro para comprar outra passagem.

Para trazer essa turma sempre foi só mandar o avião, o custo é o financeiro e o risco real é o de qualquer viagem aérea. Seus puxa-sacos na imprensa até ameaçaram tentar vender essa operação como um decisão heroica e extremamente bem-sucedida do ex-presidiário, mas tiveram que recuar.

Afinal, eles contavam com pessoas descendo do avião com lágrimas de gratidão nos olhos e, entre os quase oito mil que já voltaram, até o Nine pode contar nos dedos os que o responsabilizaram pelo "resgate". Tiveram até que inventar uma desculpa, dizendo que quase todos eram turistas religiosos e esse é outro "nicho bolsonarista".

Em suma, se dependesse dos resgatados, o Nobel acabaria com a FAB ou o prefeito de Sorocaba. E, convenhamos, essa era mais uma fantasia sem fundamento da petralhada, pois retirar os brasileiros agora de Israel seria equivalente a trazê-los da Rússia no tempo de Bolsonaro. Chutar vira-lata qualquer um faz.

A capivara, que às vezes se torna perigosa, é retirar o pessoal da zona de guerra, a Ucrânia no governo passado, a Faixa de Gaza no atual. E aí a eficiência do Molusco passou a ser aquela que se conhece. Cerca de 20 brasileiros aguardam o resgate na fronteira com o Egito, mas, uma semana depois, ele não consegue retirá-los de lá.

O problema é o Egito? É Israel? O grande negociador não consegue tomar uma cervejinha com seus diplomatas? O entrave é o Hamas, que não quer deixar ninguém sair? Ele não pode usar sua amizade com os terroristas e solicitar que eles liberem os brasileiros para que possa defendê-los internamente?

Poderia. E poderia, pelo menos em termos de discurso oficial, ter adotado uma linha parecida desde o início para encarar o leão que ele e a nossa imprensa subalterna fingem não existir, que são os reféns com nacionalidade brasileira, capturados durante a incursão inicial do Hamas a Israel.

Aliás, ele poderia ter aproveitado que está na presidência do Conselho de Segurança e batido todos os dias na necessidade deles libertaram imediatamente todos os reféns. Mesmo que os bandidos acabassem soltando apenas os não israelenses, como ameaçam agora fazer, ele poderia vender sua libertação como um feito seu.

Isso sim, até teria um cheirinho distante de Nobel da Paz. Mas a situação exigia um mínimo de grandeza. E o anão moral, pensando como sempre no seu típico eleitor desinformado e receando chamar a atenção para o fato de haver reféns brasileiros e depois não conseguir trazê-los, preferiu não montar no cavalo encilhado que passava.


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