Pense num país modelo, onde tudo é arrumadinho e todo mundo vive bem, repleto de loiras lindas e adeptas da liberdade sexual (loiros, para as leitoras), cujos políticos são honestos e cujo único problema é ser tão perfeito que às vezes se torna monótono. Mas veja o que disse o primeiro-ministro do país em que você pensou:
A Suécia nunca viu nada assim antes. Nenhum outro país da Europa está passando por isso nesta magnitude. Nós vamos caçar as gangs e vamos derrotá-las.
Ulf Kristersson precisou se pronunciar sobre o tema em discurso transmitido para um país apavorado com o que aconteceu este mês. Tiroteios, ataques a bombas, onze pessoas mortas em brigas de gangs. 2023 pode bater o recorde estabelecido no ano anterior, quando 60 pessoas morreram por arma de fogo.
Lá como cá, a maior preocupação do cidadão comum não é com os acertos de contas entre marginais, mas com a possibilidade de isso atingir quem não tem nada a ver com o assunto. Como uma jovem de 25 anos de Uppsala, que aparentemente estava apenas no lugar errado na hora de sua explosão.
Porém a maioria dos mortos pertence a facções rivais da Rede Foxtrot, gang conhecida por cooptar menores de idade, principalmente entre as comunidades islâmicas. Seu líder é Rawa Majid, a "Raposa Curda". Acusado de tráfico de drogas e assassinato na Suécia, ele vive na Turquia, cujas autoridades se recusam a extraditá-lo.
Durante muito tempo, a Suécia e a Alemanha foram conhecidas por ter políticas de imigração liberais e por acolher centenas de milhares de requerentes de asilo do Oriente Médio e da África. Agora, quando os problemas começam a sair dos bairros de imigrantes, a xenofobia cresce junto com eles.
Um dos sintomas disso é o aumento de profanações do Alcorão, atitude garantida pelas leis de liberdade de expressão suecas, mas considerada profundamente agressiva pelo islamismo. Protestos e incidentes têm se sucedido no mundo árabe. Num deles, a embaixada da Suécia em Bagdá chegou a ser invadida por manifestantes.
Recentemente, um exemplar do Alcorão foi queimado em frente da embaixada da Turquia pelo político Rasmus Paludan, de 41 anos, líder do partido Stram Kurs (algo como Linha Dura), que ainda é pequeno, mas ganha protagonismo apelando justamente para essas performances.
Mais forte é o Democratas Suecos, que cresceu explorando retórica semelhante e conquistou 20% dos votos nas eleições do ano passado. A imprensa diz que ele e o Stram Kurs são de "extrema direita" e o partido não faz parte da coalizão do atual primeiro-ministro, mas apoia o governo no Parlamento.
Apoio político, Ulf Kristersson tem. Mas ele sabe que banditismo não se resolve com conversa e, em seu discurso ao país, já prometeu se reunir com representantes das forças armadas e da polícia sueca para decidir "como as forças armadas podem ajudar a polícia no seu trabalho contra as gangs criminosas". Exército nas ruas, no popular.
Ah, sim, os membros da Suprema Corte sueca vão para o trabalho de ônibus, têm gabinetes simples e não ficam inventando leis. Nenhum deles pensou em proibir "só desta vez" a queima de livros. Nenhum proibirá a polícia de entrar nas "comunidades carentes" em que as gangs estão. O país regrediu um pouco, mas está muito longe de ser uma república bananeira.
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