quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O futuro no passado

Um instituto de pesquisa saiu perguntando se o pessoal se considerava de direita, de esquerda ou ficava no meio do caminho. E como o resultado foi publicado em O Globo, acho que podemos assumir que qualquer eventual "equívoco" de seus resultados estará beneficiando o outro lado. Vamos, portanto, a eles.

Esquecendo os mais ou menos, 11% dos brasileiros se diz de esquerda e 22% de direita. Estes eram só 9% em 2018 e chegaram a 24% (dentro da margem atual) ao longo do governo Bolsonaro.

Independente disso, as pessoas são conservadoras, 90% dos eleitores de Bolsonaro e 77% dos do descondenado não querem legalizar o aborto, 83% e 70% se opõem à descriminalização do uso das drogas, 77% e 66% apoiam a diminuição da maioridade penal. A maior diferença, 69 e 38%, está na oposição ao "casamento gay".

Os números reiteram que ninguém se elegeria só por ser "de direita" ou, muito menos, "de esquerda". Mas cerca de um terço do eleitorado se identifica com esses critérios e, exceto por aberrações minoritárias como o MBL, vota com base neles, no candidato mais próximo de sua ideologia.

Vota mesmo, esse pessoal mais politizado dificilmente deixa de comparecer às urnas. O que significa que ele representa um percentual ainda maior em termos de votos válidos. Numa conta por alto, creio que dá para dizer que cerca de 40% dos votos válidos são ideológicos, cabendo dois terços desse total à direita.

E há espaço para a direita crescer através da ideologização dos "costumes", que são uma espécie de camiseta da Seleção: a direita enverga abertamente os tradicionais, a esquerda mente defendê-los para não perder eleitores desinformados e tenta destruí-los por baixo dos panos, através de portarias de ministérios e dos asseclas que instala nas cortes superiores para subverter as leis regularmente aprovadas.

É difícil dizer o quanto alguém escolhe um político por sua posição nesses assuntos, mas eles já são vistos como pautas de direita e o recente crescimento desta coincide com a exposição da hipocrisia da esquerda sobre eles, permitida pelas redes sociais e executada por políticos, pessoas comuns e líderes religiosos.

Quanto aos últimos, outra vantagem da direita está na expansão dos evangélicos, que, além de defenderem mais os costumes, se dá através de "empresários" como os pastores que precisam manter sua própria igreja, não de "funcionários públicos" (do Vaticano?) como os padres católicos.

A esquerda ainda é vista por muitos como "defensora dos pobres". E aqui uma rápida história de 2006. A moça da cafeteria me dizia que votaria no Molusco porque era pobre e ele cuidava mais deles. Um dia descobri que ela ganhava mais na época do FHC, mas isso não abalou sua convicção de que estava melhor com o outro. Era uma questão de sentimento, uma ideologia bem vendida pela propaganda, que os fatos não iriam abalar.

Outra ideologia que favorece a canhota é o "nacionalismo nordestino". A paranaense não vê sua vitória no Miss Brasil como uma conquista heroica do Sul, mas a maranhense disse que a dela é "do Nordeste". E essa imbecilidade persiste, gerando um estoque de votos para...

Não, não é para a esquerda ou o PT. Os votos ideológicos de "pobres" e "nordestinos" são na verdade do ex-presidiário. Como a gente disse esses dias, o PT parece um partido e Bolsonaro um homem sozinho, mas é o inverso. O PT tende a sumir sem seu ídolo e a direita tende a continuar com o aspecto encarnado por Bolsonaro.

Sim, a direita que se expande e tem futuro é a que se ancora em grande parte no passado, com jeitão tradicional, conservador. Portanto, esqueça o cara de terninho e cabelo engomado que só fica falando em economia ou se limitando ao combate à corrupção.

Lembre que o próprio governo Bolsonaro teve um excelente desempenho econômico em face das circunstâncias dificílimas que enfrentou e foi o mais honesto que já tivemos, mas isso, embora importante, se revelou eleitoralmente secundário.


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