sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Era uma vez entre o Báltico e o Negro

Precedida pela união dinástica entre Polônia e a recém convertida Lituânia, em 1387, a República das Duas Nações foi oficializada em 1569 e durou até 1791. Populosa, rica em terras férteis, ela se estendia do Mar Báltico ao Negro no sentido norte-sul e chegava a uns cem quilômetros de Moscou no leste e de Berlim no oeste.

Bielorrússia, Letônia, grande parte da Estônia e da Ucrânia, a porção mais ocidental da atual Rússia, tudo fazia parte do temido e poderoso estado polaco-lituano, que, como mostra a imagem acima, chegou a tomar Moscou em 1610, ocupando-a durante alguns anos.

Para melhorar, seu governo era democrático para os padrões da época. As unidades de sua federação gozavam de relativa autonomia, o rei tinha um papel limitado e o verdadeiro poder central era exercido pelos nobres que representavam suas diferentes regiões.

Tão igualitária era essa assembleia que suas decisões precisavam ser tomadas pelo convencimento, por unanimidade, pois um único legislador poderia barrar uma proposta através do liberum veto (veto livre).

No início, o instrumento foi bem utilizado. Mas, com o tempo, os vizinhos-inimigos - Rússia, Prússia e a monarquia dos Habsburgos - perceberam que era suficiente subornar um daqueles nobres para bloquear o que lhe interessasse. E, conforme isso se tornou comum e a administração do país foi travando, ele foi se desestruturando.

O liberum veto foi abolido em 1791. Mas era tarde demais. Envolta em problemas diversos, a federação caída na anarquia não conseguiu evitar a conquista dos vizinhos que a dividiram entre si poucos anos depois. Alguns de seus integrantes ainda recuperaram a independência de forma isolada, mas nunca mais a grandeza.

Prova disso foi a nova divisão da Polônia entre os socialistas soviéticos que estão no DNA do nosso PT e o PT original, o Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista Alemão. Prevista em agosto, no Pacto Molotov-Ribbentrop, ela foi posta em prática há exatos 84 anos, em 1° de setembro de 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial.

Depois os dois irmãozinhos totalitários brigaram entre si, mas essa é outra história. A nossa é que a poderosa nação que dominou aquela região durante quatro séculos de repente sumiu para não mais voltar. Quem viveu por lá por volta de 1600 devia achar que aquilo era eterno, contudo...

Isso mostra os riscos de deixar tudo na mão de poucas pessoas. Lá era só uma. Porém, ainda que fossem, por exemplo, onze, alguém poderia fazer o que bem entendesse caso se acertasse com seis capazes de cometer barbaridades desmoralizantes como descondenar criminosos contumazes e rasgar leis para beneficiar familiares.

Imagine um lugar desses. Você poderia inventar algo absurdo como a entrega de um quarto do seu território para os poucos remanescentes das tribos que cinco séculos antes foram derrotadas pela sua. E isso poderia ser aprovado pelos seis, contribuindo para acabar com a nação de acordo com suas próprias leis.

Ainda bem que nós temos a História para nos ensinar essas lições. Saber que coisas assim aconteceram no passado garante que nós ficaremos alerta e continuaremos a existir pelos próximos séculos. Os antigos sumiram. Mas hoje é diferente, nós seremos eternos.

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