O tempo passa, 43 anos depois de Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu (Airplane), o piloto ainda está lá para assumir o controle em caso de necessidade, mas o taxista sumiu de verdade. Pelo menos em São Francisco, onde duas frotas já foram autorizadas a operar o serviço sem condutor humano.
Como esperado, tem gente achando a novidade maravilhosa e outros nem tanto. Um carro travou sem saber o que fazer numa curva muito fechada à direita, os lixeiros reclamam que eles param com frequência e atrapalham seu trabalho, pessoas com problemas de locomoção não conseguem entrar e sair do táxi sem auxílio humano.
Problemas como esse devem ser corrigidos em mais algum tempo. Mas aquilo que hoje não é problema é que pode se tornar, pois a principal preocupação dos responsáveis pela novidade é, e continuará sendo, evitar que seus carros se envolvam em acidentes de trânsito e atropelem transeuntes.
Para não falhar nesse ponto, os táxis são programados para parar em diversas situações. E, mostrando como isso os fragiliza, já existem grupos dedicados ao que está sendo chamado de coning. O pessoal coloca um simples cone de trânsito sobre o capô do carro sem motorista. E ele não sai do lugar.
Imagine num lugar mais selvagem. Um assaltante para no meio da pista e o táxi fica paradinho enquanto seu comparsa assalta o passageiro. É possível até que isso já tenha acontecido e eles não tenham divulgado. Ou não tenha porque o risco de ser assaltado num táxi comum em São Francisco é considerado baixo. Ou por sorte.
Seja como for, isso se tornaria normal em países como o nosso. Os prestadores do serviço passariam a operar com veículos blindados e avisos de que uma equipe de segurança está a caminho e as portas só podem ser abertas pela central no destino programado? Táxis sem motorista acabariam sendo mais seguros e mais caros?
Pode ser, mas acho que vale aqui a máxima dos cofres: tudo o que você inventa para evitar as violações anteriores será violado em breve por alguém mais esperto. Transformar os táxis sem motorista em um produto destinado ao nicho de quem pode gastar mais os tornaria cada vez mais desejáveis para os criminosos.
Com o tempo, talvez os assaltos mais perigosos se tornassem, ironicamente, os robotizados, sem necessidade de assaltantes de arma na mão. Hackers poderiam dominar seus sistemas e controlar os táxis, cobrando resgate para não jogá-los do penhasco com o passageiro dentro ou coisa parecida.
Claro que nesta última hipótese nós estaríamos numa posição privilegiada, única no mundo, pois o TSE poderia usar sua expertise para criar uma equipe dedicada à segurança dos usuários desses táxis (todos eles eleitores) e nenhum extremista conseguiria atacar a democracia e assaltá-los.
Ainda restariam casos como a da moça que dormiu no táxi e foi depositada na calçada pelo motorista. O carro esperaria ela acordar? E se um sem-teto resolvesse dormir de propósito no banco quentinho com ar condicionado? O robô emitiria um barulhão para expulsá-lo? Padre Júlio reclamaria? Barroso lhe daria uma liminar?
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