quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Pronto para a festa

Seria amanhã, mas acho que é melhor fazer hoje para não parecer insistência na provocação. Então vamos lá: "Quinta-feira, Del Rey ligado..." Não, não, Del Rey é um carro antigo, que emite muitos poluentes, ainda mais com o motor ligado sem andar, podem pensar que o texto está estimulando o aquecimento global.

Melhor mudar essa parte: "Quinta-feira, automóvel preparado, cigarro na mão..." Ih, acho que também não vai dar, a propaganda de cigarro está proibida, podem interpretar que a lei está sendo burlada. Preciso ter certeza de que o texto seria aceito até pelo supremo, vou dizer que o cigarro é de maconha e para consumo próprio.

Fica mais garantido: "Quinta-feira, automóvel preparado, baseado de poucos gramas na mão, 38 carregado..." Caramba, mais um problema! Já posso ver os caras perguntando se eu tenho porte de arma e por que eu teria carregado o 38 se não pretendesse usá-lo. Vão me acusar de incitação à violência pra cima.

É mais conveniente inverter a expectativa e deixar claro que eu só quero me divertir sem causar risco para mim e para outros: "Quinta-feira, automóvel preparado, baseado de poucos gramas na mão, arma de fogo descarregada e bem guardada, prostituta no colo..." Putz, outro entrave que eu não tinha considerado.

O termo em si já é ofensivo, mas é capaz de implicarem mais com a posição. Se ela está no colo é porque não é pesada, podem abrir um processo por gordofobia. Ou podem alegar que ela não pesa porque é novinha, me acusando de tráfico sexual de menores. No mínimo, me chamarão de machista por objetificar o corpo da mulher.

Vou mudar: "Quinta-feira, automóvel preparado, baseado de poucos gramas na mão, arma de fogo descarregada e bem guardada, garota de programa convidada, tudo pronto para uma diversão segura e prazerosa."

Deve passar. Mas será que não seria melhor esclarecer que a garota pode ser trans para não me acusarem de transfobia?

* * *

O filme era francês e já antigo quando o vi na TV, muito tempo atrás. O sujeito levava uma vida miserável, encontra um livrinho em que alguém ensina como se dar bem na vida e resolve seguir à risca suas instruções. Para começar, entra na loja, diz que quer transar com a balconista, e ela se fascina com sua audácia e aceita a aventura.

E assim ele vai. Logo vira assessor de um político corrupto, que o admira e o promove por sua falta de escrúpulos. Em pouco tempo está numa posição ainda mais poderosa. E então decide agradecer a quem lhe permitiu tudo aquilo, o guru que escreveu o livro salvador.

Encontra o cara numa pensão, com problemas de saúde e dificuldade para pagar o aluguel. Quando lhe fala da obra, a resposta é mais ou menos: "Ah, aquilo? Não lembro bem, eu vivo de escrever, o editor define um tema que acha que vai vender e eu faço o livro."

No cinema, na TV, nos livros e até nos jornais, sempre tivemos espaço para a criação de histórias e personagens, nunca nos limitamos a documentar o que acontece (ou o que nos parece que acontece, pois todos são consciente ou inconscientemente parciais). Mas nas redes sociais isso pode virar caso de polícia. É ridículo demais.

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