sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Paula encontra Bruma

É mais ou menos como aqueles romances em que um personagem de outro livro aparece de repente, um Stanley dizendo "Dr. Livingstone, eu presumo?", um encontro de dois mundos. Uma de nossas referências na imprensa falando da outra! Sim, amigos, aconteceu, Paula Schmitt encontrou Elaine Bruma.

Foi no decorrer de um artigo sobre um pastor que queria proibir o Porta dos Fundos, mas eu tirei essa parte para deixar só o que interessava. Em frente, fala aí Paula, diz pra nós o que você pensa da salvadora da floresta.

🙈 🙉

Em meio à histeria dos loucos religiosos, daqueles cuja fé é tão frágil que precisa ser protegida de piadas, teorias e questionamentos que a abalem, temos algo tão ou mais nefasto, só que respeitado pela elite de esquerda: gente descolada, que se veste bem e jamais escuta sertanejo, fazendo o mesmo tipo de caça às bruxas, a mesma perseguição irracional, imoral, desonesta contra gente inofensiva sob o argumento de estar "protegendo minorias".

Um exemplo clássico e triste disso é um artigo escrito pela respeitada jornalista Eliane Brum, que lamentavelmente ainda está lá, no site do El País. Uso esse exemplo porque conheço poucas episódios tão nefastos e tão magistralmente travestidos de compaixão. Brum desrespeitou um indivíduo – a menor minoria que existe – por estar usando um turbante, o que seria uma apropriação cultural dos africanos. O "indivíduo" a quem Eliane Brum expôs cruel e torpemente era uma mulher de 19 anos, vítima de leucemia, que publicou um post em uma rede social, feliz por estar se sentindo linda ao cobrir sua cabeça careca com um turbante. Deixe de lado, por um momento, a estupidez desprezível e a imundice moral de quem se apropria do poder desmesurado e assustador de subir no palanque de um jornal internacional, e condenar uma mulher em nome de um povo que não lhe nomeou a cargo nenhum, humilhando publicamente uma pessoa que não fez mal a absolutamente ninguém. Pense apenas na lógica do conceito de apropriação cultural: se o turbante "pertence" aos africanos, e usá-lo é sinal de desrespeito, cabe aqui uma série infinita de perguntas: Índios podem usar relógio? Dirigir carros? Eliane Brum pode usar camiseta? Foi inventada pela "sua tribo"? É produto da sua "civilização"? Que civilização é essa? Como ela sabe que pertence a ela? E em que ela contribuiu para aquela descoberta ou artefato? E trança no cabelo, pode usar? E bronzeamento artificial? E mulheres pretas que pintam o cabelo de loiro? E na África, onde turbantes são vendidos para turistas e ajudam na renda familiar? Vamos boicotar? O que aconteceria se toda produção de artefatos tribais pararem de ser comercializados sob uma desculpa que usa o raciocínio digno de um artrópode? Com que direito um membro da "elite branca" define o que pode ou não ser comercializado por minorias? Quem lhe permitiu essa intromissão? De que maneira isso é menos revoltante do que um abaixo-assinado pedindo a proibição do Porta dos Fundos? Agora, pra refletir porque a esquerda assusta tanta gente, é só parar para imaginar o Bolsonaro decretando algo de tamanha arbitrariedade. Quem é mais tirano?

E qual a diferença de uma Eliane Brum e um Otoni de Paula? A diferença, meus infiéis leitores, é a desonestidade intelectual de quem ainda defende um como sofisticado, enquanto ataca o outro como tosco, quando ambos são igualmente maléficos a qualquer sociedade desenvolvida, livre, inteligente, iluminada. Amém.


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