Uma vez eu fui ver um empreendimento novo, que estaria vendendo terrenos muito baratos numa área promissora. Mas o corretor não respondia as perguntas e havia um esquema comercial diferente, no qual, entre outras inovações, você deixava seu nome e no dia tal eles podiam te chamar no escritório da empresa para formalizar o negócio.
Tudo muito estranho. Mas, já que estava lá, pedi uma minuta do contrato ou coisa parecida para ver como ficavam as tais condições no papel. E a resposta do cara foi que não podia fazer isso porque eu não era advogado e apenas advogados podem ler contratos, os outros só têm que assinar.
Uma das características do discurso do picareta é a enrolação, uma coisa puxa a segunda, está envolvida com a terceira, mas pode voltar pra primeira... A outra é que se torna difícil colocar essa conversa no papel (numa lembrança invertida de que uma das regras para colocar um tema em ordem é escrever sobre ele).
Me lembrei da história acima ao ver, agora de manhã, mais alguns artigos sobre o "crime do Rolex" (o do Bozo, não o do menino que rouba relógio para tomar cervejinha). Na TV é mais fácil, além de acavalar os assuntos o sujeito pode transmitir sua mensagem com uma careta ou uma entonação da voz. Mas no papel eles sofrem.
É o Bolsonaro, é o Cid que viajou e voltou, é o TCU que falou e não falou. E entram os depósitos para a esposa, e os prêmios da loteria e a vaquinha dos 17 milhões, e isso e aquilo. É tudo tão confuso que, quando aparece algum emocionado com o que acabou de ler e você lhe pede para especificar a acusação, ele se cala.
Existe vontade política de condenar, é óbvio. Mas não existe um tronco acusatório, tudo são ramificações. E a árvore é meio mágica, basta você tocar num dos ramos para ele automaticamente se subdividir em outros que, lá pelas tantas, poderão (ou não) se entrelaçar novamente com os primeiros.
A picaretagem tem seu estilo próprio.
Ela voltou
"Todos os dias, cerca de 200 filhas de mulheres são estupradas no Brasil." Imagine se você contar as que não são filhas de mulheres. Eu cheguei a pensar que a tinham dispensado, mas ela está lá, firme no seu contrato de domingo com a Foice. Pelo menos deixou de ver telhados nazistas, é um progresso.
Ombudsman critica
E o ombudsman da Foice encontrou mais falhas no jornal. Eles publicaram que o ex-presidiário estava chateado com o dinossauro sem lhe perguntar diretamente, onde já se viu. E não destacaram adequadamente a sua enorme aprovação na última pesquisa da nova Vox Populi. Esse jornal está muito parcial.
O atual ombudsman também escreve que: "Em encontro com ex-ombudsmans, a chefia do jornal, à luz dos vazamentos, admitiu a necessidade de reexaminar a atuação da Folha na cobertura da operação." Imagine a reunião com os caras que hoje são colunistas do Esgotão! E a operação que eles querem revisar é a Lava Jato, é claro.
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