O árbitro que beneficiou um dos dois times de todos os modos possíveis tinha que fazer isso mesmo, mas era para ser só nas partidas daquele campeonato, agora ele deve ser honesto e seguir as regras outra vez. Essa parece ser a nova mensagem dos "intelectuais" da imprensa ao STF.
Não deixa de ser um avanço. Há pouco tempo, essas mesmas pessoas poderiam jurar que a falta feita cinco metros fora da área foi pênalti e ainda acusariam quem lhes apontava o óbvio da desonestidade que defendiam. O que mudou?
Muitas coisas têm um momento emblemático em que vira a chave. Nesse caso, parece ter sido a confissão do Barroso na UNE. Todo mundo já sabia, mas foi de lá para cá que o pessoal deixou aquele discursinho fajuto de que tivemos uma eleição honesta.
Hoje, só os completos imbecis ainda insistem nisso. Para quem quer se mostrar inteligente ficou até chato parecer que não percebeu a malandragem. E aí eles a assumiram, mas dizendo que era para ser só um pouquinho. Vejam o que escreve, por exemplo, o Luiz Felipe Pondé:
Após as eleições dramáticas em 2022 em que o STF e o TSE tiveram um papel fundamental para a contenção de grupos golpistas, já é hora de alguém dizer para a Corte Suprema que ela deve recuar. O Supremo não governa o país nem foi eleito como representante da população (...) Se você espirrar na hora errada, você poderá ser acusado de ataque a democracia. Esse argumento virou um trunfo para calar a boca dos desafetos do governo.
Entendi, filósofo. Na eleição o pessoal não eleito por ninguém pode se comportar como ditador e acusar todo mundo de "ataque à democracia", mas depois ele "deve recuar". Pela sua lógica, na próxima eleição eles devem perguntar sua opinião para saber se continuam recuados ou avançam novamente, certo?
Na mesma Foice, como bom garotão Libelu que nunca deixou de ser (Tia Reinalda também era), Demétrio Magnoli finge não ter percebido que os fins realmente golpistas estavam nos meios:
Os fins eram nobres: proteger as instituições democráticas, inclusive a própria corte suprema. Os meios, inventados no calor da batalha, eram improvisações legais: um inquérito de ofício com horizonte indefinido e alvos mutáveis, ordens de censura prévia e de cancelamento de contas em redes sociais.(...) No fim, suas ações heterodoxas revelaram-se eficazes, talvez decisivas, na resistência aos impulsos golpistas de Bolsonaro e sua trupe cívico-militar. O problema é que o triunfo sedimentou-se como teoria: no lugar de um parêntesis, uma doutrina.(...) À sombra dela, o STF prolonga as exceções jurídicas para além do período de excepcionalidade política, encerrado com a prisão dos vândalos do 8 de janeiro. Prova mais recente: a ordem de busca e apreensão contra indivíduos sem foro especial acusados de ofender e agredir Alexandre de Moraes e seus familiares no aeroporto de Roma. Nesse caso, tenta-se justificar a intervenção do tribunal superior sob a alegação imaterial de conexão com um movimento golpista derrotado.
Demétrio admite que tivemos a censura e as demais "exceções jurídicas" sem citar um só exemplo da "excepcionalidade política" que a justificaria (ainda que na sua cabeça, jamais na lei). Onde estão os ATOS antidemocráticos de Bolsonaro?
Lembremos que Barroso (sempre ele e sua boca grande) um dia listou os supostos SEIS ATOS, um dos quais era alguém ter dito que Bolsonaro havia pensado em mandar aviões voarem baixo para quebrar as janelas do STF.
Demétrio deve ter lido isso, mas percebeu a furada e se apegou à invasão do prédio em janeiro, tratando como "golpe" um protesto de idosos inofensivos, realizado quando Bolsonaro já nem era presidente. Ou seja, nos roubaram e o motivo que justifica o roubo é alguns de nós terem depois protestado contra o assalto.
A lógica dos caras é um troço fantástico.
Fosse ela mais próxima da realidade, ambos perceberiam que não podem reclamar de nada. No contrato que assinaram não havia prazo para o regime de "exceções jurídicas" acabar. Os quase 60 milhões de animais selvagens ainda não foram exterminados, quem disse que o problema está encerrado? Eles?! Quem lhes botou na cabeça que eles eram os donos da chave liga-desliga das "ações heterodoxas"?
Para a turma do sujeito que eles levaram da cadeia para a presidência isso é só um começo. E como a turma que domina o STF foi indicada por ela... Se os dois colunistas realmente nunca pensaram nisso, são dois completos idiotas.
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