segunda-feira, 31 de julho de 2023

Ei, você aí

Se o presidente fosse o anterior, pode apostar que a imprensa não falaria de outra coisa além do bloqueio bilionário do orçamento da Saúde e da Educação. Seriam dias de manchetes escandalosas, artigos chorosos sobre a maldade feita com os que mais precisam e análises provando que bastava ter competência para evitá-la.

Não que os jornalistas de que estamos falando se preocupem realmente com isso, mas é que eles não perderiam a chance de expor a incompetência e estupidez do atual desgoverno.

No entanto, eles encontraram um escândalo para explorar nos últimos dias: o PIX de Bolsonaro. Não a vergonhosa quebra do sigilo bancário do presidente legitimamente eleito e de quem lhe enviou dinheiro, mas o fato de parte do seu eleitorado ter depositado mais de 17 milhões em alguns poucos dias.

Há quem pense que o objetivo da manobra foi ameaçar implicitamente os depositantes, pois, como agora eles podem inventar crimes ao estilo Minority Report, sem necessidade de materialidade ou qualquer tipo de prova, nada os impediria de dizer que o dinheiro seria usado para financiar um golpe ou coisa parecida.

Em parte, pode ser. Mas eu acho que o principal foi a tentativa de mostrar o presidente como um malandro explorador, pelo menos comparável àquele vagabundo que esteve envolvido em falcatruas desde sempre, negociando na calada da noite com patrões e vivendo em casas de amigos.

Isso lhes dói muito, pois o governo mais vigiado de todos os tempos foi o primeiro sem casos de corrupção. Eles tentaram encontrar algum, mas só o que conseguiram foram denúncias lá na ponta, de coisas menores como dos pastores que pediram dinheiro a prefeitos, que eram tão frágeis que logo morreram.

Sem saída, eles se voltaram para a vida pessoal. Somaram os depósitos feitos durante anos numa conta para anunciar que ela movimentou milhões, juntaram os imóveis até de parentes distantes para dizer que "os Bolsonaro" tinham um patrimônio incompatível com a renda, inventaram uma tentativa de ficar com as joias sauditas...

E agora foi o PIX. O malvadão teria iludido seus apoiadores e arrecadado muito mais do que precisava para as multas que ainda nem pagou (pois entrou com recurso contra o absurdo). Viu, quis dizer a imprensa, ele enganou você, pegou muito mais do que precisava e enfiou no bolso, enriqueceu às suas custas.

Só que ninguém estava minimamente preocupado com isso. Pelo contrário, a ideia de quem depositou foi oferecer, além do dinheiro da multa, um conforto financeiro para que o presidente não tenha que se preocupar com dinheiro por um bom tempo. Já não queriam lhe tirar o salário do PL? Que tirem, não fará diferença, ele tem apoio.

Depois que os tucanos e similares desceram para o lado esquerdo do muro e passaram a apoiar todo tipo de arbitrariedade, a única opção democrática que nos restou foi a ligada a Bolsonaro. Não custa cada um tirar um pouquinho do bolso para apoiá-lo. Na hora de financiar a campanha, dele ou de alguém, terá muito mais.

Só não teve agora porque ele brecou os depósitos depois de alguns poucos dias. Vão proibir uma próxima campanha? Proibir cada um de fazer com seu dinheiro o que quiser? Não tem problema, escreve um livrinho para ser lido na internet e vende cópias virtuais com pagamento via PIX, eu compro cinco exemplares.

Os pilantras da imprensa passaram outro recibo ao se calarem sobre o vazamento e quebraram a cara mais uma vez. Até Tia Reinalda, pelo que acabo de ver, deixou de falar do assunto. Passaram vergonha de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário