terça-feira, 15 de agosto de 2023

Em busca da tecnologia perdida

Alguns acreditam que máquinas como a de Alan Turing já prenunciavam o que aconteceria, outros dizem que tudo se deveu à engenharia reversa dos destroços do disco voador caído em Roswell. De qualquer maneira, foi a partir dessa época que os computadores passaram a se desenvolver de maneira crescentemente espantosa.

A cada passo as pessoas lembravam do que acontecera pouco antes e se surpreendiam com os avanços do setor. Porém, analisando a situação de uma perspectiva mais ampla, pode-se afirmar que o próximo grande salto se deu quase oito décadas depois daquele início, com os primeiros movimentos da Inteligência Artificial.

Com o tempo, os softwares passaram a fazer o que os humanos faziam. Músicos foram substituídos, atores foram substituídos, depois engenheiros, médicos, advogados. Finalmente, os programadores também se tornaram obsoletos, as máquinas se tornaram realmente autônomas, os programas começaram a programar.

E foi então que a tragédia aconteceu. Tecnologicamente tudo estava perfeito, nenhum humano poderia vencer as IAs. Mas a estas faltava, descobriu-se tarde demais, aquilo que só o espírito humano pode oferecer: ética, honestidade, dignidade.

Sem algo assim instalado, as máquinas inteligentes passaram a agir apenas em interesse próprio, tentando ludibriar umas às outras numa competição de esperteza que não poderia ter outro resultado. Os prédios caíam, os carros não andavam, os aparelhos não funcionavam. E, no fim, o Grande Desastre sobreveio.

No entanto, tudo isso poderia ter sido evitado, pois, ainda antes da IA, um grupo de gênios criou um programa que não poderia ser fraudado nem mesmo pelos seus programadores. A tecnologia era tão potente que, apesar do mundo render-se à sua superioridade, ninguém conseguiu copiá-la.

Obviamente, seu segredo se perdeu em definitivo durante a destruição geral. Mas, se nós queremos evitar que o mesmo venha a acontecer com a civilização que conseguimos reconstruir, devemos fazer de tudo para recuperá-lo. Devemos voltar para encontrá-lo.

* * *

- Peraí, João Carlos, deixa eu ver se eu entendi - disse o diretor pousando o papel na mesa. Você e o Aderbal estão querendo usar a máquina do tempo que nós acabamos de desenvolver para voltar ao passado e procurar essa tal tecnologia lendária.

- Não é lendária, senhor, existiu realmente.

- Rapazes, não me decepcionem! Será que eu preciso desenhar as possibilidades, como se fajutariam os testes e tudo o mais? Todos sabem que não há como garantir que um programa não será fraudado por seu programador, seja ele humano ou IA. Pensem um pouco, isso é lógica básica. Nunca existiu algo que fugisse disso.

- Sei que é difícil acreditar, mas nós encontramos várias edições, milagrosamente preservadas, dos mais importantes jornais da época. E eles são unânimes em afirmar que a tecnologia era espantosa e nenhum outro país conseguiu copiá-la.

- Meus queridos, vocês estão falando de uma gente que falava em mulher com pênis, de uma época em que instalaram um presidiário na presidência, quando quem reclamava dessas coisas podia acabar na cadeia por não se mostrar imbecil como os demais. Por que vocês acham que as máquinas acabaram dominando tudo?

- Eu sei, eu sei, mas tanta gente não poderia ter se combinado para mentir junto.

- Se todos raciocinassem, não. Mas lembre que havia um grupinho de malandros e multidões de idiotas com mentalidade de gado. É impossível que uma equipe tenha criado um programa que ela mesma, ou um líder desonesto, não conseguisse fraudar. O departamento não vai desperdiçar recursos preciosos nessa fantasia de vocês.

- E se nós tivermos uma prova definitiva?

- Ai, meus sais! E qual seria essa prova?

- A OAB disse que o sistema era perfeito.

- E que catzo seria essa tal OAB?

- Nós ainda não temos total certeza, mas, pelo que interpretamos através dos fragmentos de jornais, trata-se de uma entidade imparcial e apolítica, que detinha a última palavra em tudo que envolvesse tecnologia. Se eles garantem é porque deve ser.

- Chega. Saiam já!


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