terça-feira, 22 de agosto de 2023

Aristocratas e lacaios

Em artigo escrito para o City Journal e publicado na Gazeta do Povo (aqui), o americano Martin Gurry conta como o Partido Democrata foi sendo tomado pela visão, normal entre esquerdistas, de que a informação deve ser deixada na mão de um pequeno grupo capaz de decidir o que o cidadão pode ler ou escrever.

Não é apenas a informação. Um conhecido que fez cursos para concurso de procurador dizia que lá já ensinam que há duas teorias (igualmente válidas, está suposto) sobre a função e a Justiça como um todo. Uma é que eles devem seguir as leis votadas pelos representantes do povo, outra é que lhes cabe antecipar os novos tempos.

É o que dizem os Barrosos da vida, eles precisam criar o casamento gay, liberar o aborto e realizar outros "avanços". Por outro lado, não podem permitir "retrocessos" como a possibilidade do cidadão honesto adquirir uma arma. Se o povo surpreendeu e decidiu o contrário, não se deve cumprir a sua decisão.

Essa sempre foi a visão da esquerda. Lembremos que suas revoluções terminam com a tomada do poder por uma vanguarda que vai decidir tudo temporariamente, até que o povo adquira consciência de classe ou qualquer outra asneira igualitária que é jogada para um futuro utópico e distante.

Há vários motivos para essas ideias terem ganhado fôlego nas últimas décadas. A própria evolução da tecnologia, hoje cada vez mais distante do cidadão comum, cria essa noção de elite que os "cientistas sociais" (em geral esquerdistas) tentam espertamente estender para o seu campo de trabalho.

No jornalismo, na comunicação, tudo também parecia se encaminhar nesse sentido, com grandes redes definindo pautas que poderiam ser transmitidas quase instantaneamente mundo afora. Você, Zé da esquina, poderia protestar contra uma reportagem, mas bastava jogar sua carta de leitor no cesto de lixo do jornal.

Só que aí, de repente, a internet e as redes sociais permitiram que o Zé fosse ouvido por todos. E o que estava sendo levado em fogo brando virou fogueira. A esquerda mostrou as garras onde não precisa escondê-las, como Cuba e China. E foi censurando como podia nos países mais livres, como mostra o Gurry com o exemplo dos EUA.

É uma briga de resultado duvidoso, ainda dependente de lances ocasionais como a compra do X pelo Musk, algo que parece muito bom porque alterou tudo positivamente da noite para o dia, mas no fundo é preocupante porque mostra que isso poderia (e pode) acontecer em sentido oposto.

A parte divertida dessa história é que a esquerda acaba por mostrar abertamente sua verdadeira face, seu ódio à liberdade e seu pendor elitista. O sonho do militante esquerdista nunca foi realmente enforcar o aristocrata, mas assumir o seu lugar. O resto é uma bela conversa fiada.

Por outro lado, nada é mais curioso do que a posição dos lacaios voluntários, que não definirão pauta alguma, mas defendem que seus iluminados senhores as definam. Há gente que quer ser censurada, deseja ter sua liberdade de expressão cerceada por outros, vibra com isso. Vá entender o que pensam esses idiotas.


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