Me lembro de quando criticavam o Rubinho por aceitar o papel de coadjuvante do Schumacher na Ferrari. Nas discussões regadas a cerveja após o futebol de domingo, os minoritários pensávamos que ele tinha razão em aproveitar da melhor maneira possível o que o destino lhe ofereceu.
Admitindo não ter o acréscimo exigido para entrar na salinha dos grandes campeões, ele se alegrava em ser sócio do restrito clube dos multimilionários corredores de Fórmula 1. Antes dos 40 deixaria a carreira com dinheiro para fazer (ou não fazer) o que quisesse pelo resto da vida. E logo ninguém se lembraria do que aconteceu.
Hoje, poucos anos depois, quem lembra? Mesmo que não tivesse sofrido o acidente que o incapacitou, no que o alemão estaria melhor que ele? Já nem se discute Fórmula 1 como antes. Imagine em mais duas décadas, talvez o balconista da loja nem reconheça o feliz Rubinho setentão.
Algo similar nos custou Copas como a de 2014. Tudo seria diferente se lá estivessem, ainda ativíssimos, Ronaldinho Gaúcho com 34 anos e Adriano Imperador com 32. Mas ambos frearam curvas antes, quando contaram a fortuna que já tinham amealhado aos vinte e poucos e decidiram apenas ir levando.
Agora, alguns por aí criticam Neymar, o garoto sobre o qual foi jogada a responsabilidade de 14. O traíra, dizem eles, vai para o pouco competitivo futebol da Arábia Saudita e não terá condições de apresentar um grande futebol na próxima Copa, que provavelmente será a sua última, aos 34 anos.
Tudo isso só para ganhar R$ 860 milhões por ano livre de impostos nos próximos dois anos. Mais 400 mil por vitória e 2,7 milhões por postagem que promova a Arábia Saudita nas redes sociais. Mais carro e mansão cinematográficos. Mais a liberação para morar com a namorada sem ser casado.
- Amor, me compra aquela casa que está à venda ali na esquina.
- Tá bom, vou postar alguma coisa nas redes e mando pagarem direto pra você.
E se a moça tiver um desparafusamento mental e abandoná-lo, os caras são capazes de providenciar um harém para ele se consolar. Como é que alguém vai recusar uma proposta dessas? A troco de que o faria?
Nem a alegação de que perderá competividade por jogar contra times mais fracos se sustenta, pois nada garante que ele chegaria melhor à Copa caso permanecesse na Europa. Poderia até se lesionar e nem chegar. Por outro lado, ao final dos dois anos ele ainda terá quase um ano inteiro para se preparar, jogando onde quiser.
E quem garante que isso será decisivo na Copa? Ou que grande diferença fará vencê-la? Não duvido que Neymar queira encerrar a carreira com a sexta estrela, mas, conquistando-a ou não, isso logo será um dado do passado, uma efêmera alegria ou tristeza que desaparecerá na poeira do tempo.
Muito melhor deixar a Copa para a sua época e viver por dois anos neste clima de conto de maravilhas, numa cultura diferente, numa condição ainda mais especial, com a mulher nova, o filhinho que vai nascer e tudo o mais.
Mesmo futebolisticamente, meu palpite é que essa arejada vai fazer muito bem ao Ney e, em consequência, ao nosso desempenho em 26. Mas isso nós teremos que esperar pelos 1029 dias e noites que nos separam do início da Copa para conferir.

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