No último instante, admitindo a imensa e inegável diferença em questões como corrupção, condução da economia, liberdade de expressão e tantas outras, os "isentos" decidiram que não seriam usados como massa de manobra pelo lulopetismo e votaram em Bolsonaro, que acabou vencendo por 0,1% dos votos.
Mas se arrependeram meio ano depois. A gota d'água foi naquela semana em que, durante uma reunião de comunistas, Barroso soltou o seu famoso "nós perdemos", lamentando a vitória dos "manés" que fazem o Brasil funcionar e tanto desprezo lhe causam. Na verdade foram duas gotas. E lhes pareceu uma inundação.
Primeiro, petistas discutiram com um ministro num aeroporto do exterior. Um bate-boca, um empurrão, nada demais. Mas os bolsonaristas mandaram a polícia invadir a casa dos acusados (!) e o próprio Bolsonaro entrou em campo para dizer que aquilo provava que seus adversários eram "animais selvagens que precisam ser extirpados".
Absurdo, impensável! Como um presidente pode dizer uma coisa dessas!? Mas o pessoal ainda estava tentando se recuperar do choque quando ele, passeando por aí com o deslumbre de sempre, desembarcou na África e agradeceu aos africanos pelos serviços prestados durante os séculos de escravidão.
O Brasil parou de vez, a imprensa não tinha outro assunto. Numa edição dedicada apenas ao tema, Bonner abriu o JN lembrando que Goebbels comparou os judeus a animais a extirpar. E encerrou dizendo que os democratas devem aprender com a História e reagir enquanto é tempo. Em tom grave, não teve nem a musiquinha final.
E essa foi a norma, inclusive no exterior. Seus jornalões seguiram os nossos. Leonardo DiCaprio ressaltou que aquilo revelava, nas entrelinhas, o desprezo de Bolsonaro pela vida selvagem e perguntou se o mundo continuará esperando que ele destrua a Amazônia e o futuro da humanidade. Chomsky foi lacônico: "Eu já sabia."
Por aqui, a reação não se limitou à imprensa. Políticos da oposição começaram a reunir nomes para dar andamento ao impeachment do monstro. Barroso deu-lhe 48 horas para apresentar explicações. Em entrevista à Folha, um furibundo Gilmar Mendes garantiu que "a corte" defenderia a democracia tão arduamente conquistada.
Mas ninguém mostrou tanta indignação quanto o movimento negro. "Só faltou ele calcular quantas arrobas de carne negra foram extirpadas neste país", ironizou Frei David enquanto lembrava que a matança continua em nossas periferias e tudo isso só terminará quando o negro brasileiro passar a viver da merecida indenização estatal.
Indo mais além, em entrevista-cabeça dada ao lado do namorado, Leandro Karnal mostrou que as duas declarações eram uma só. A referência ao animal selvagem surgiu na mente do fascista porque ele já estava de partida para a África, local que o racista gostaria de eliminar porque lhe recorda as raízes comuns de toda a humanidade.
Enfim, não se fala em outra coisa. A questão é se ficaremos mais uma vez na conversa ou finalmente tomaremos uma atitude. Saberemos o que a população pensa do assunto no próximo domingo, pelo tamanho do apoio à manifestação convocada pelo MBL para pedir o impeachment do inominável.
Todos estão convidados. O deputado Kim reafirmou o caráter suprapartidário do evento e garantiu que se o presidente fosse outro faria exatamente a mesma coisa.
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