quarta-feira, 5 de julho de 2023

Do tempo da UPA

E agora, quem tem razão? Um dia depois de termos comentado a pesquisa que mostrou o crescimento do medo ao comunismo e no mesmo em que salientamos a importância do voto ideológico, ontem, dois colunistas nos responderam sem querer, cada um com uma opinião diferente.

No UOL, Matheus Pichonelli, que deve ter sido um daqueles meninos convertidos pelo professor petista no secundário, escreveu Datafolha mostra que paranoia anticomunista é delirante, mas eficaz, que concorda conosco naquele estilo deles, dizendo que o pessoal nem sabe o que é comunismo, a direita manipula os ignorantes e coisa e tal.

Obrigado, Matheus. E, para você entender, "comunismo" é uma ditadura de esquerda, um rótulo simplificador que parece um pouco o "fascismo" de vocês. Só que ninguém aqui admira o Mussolini ou quer oprimir o cidadão enquanto vocês idolatram regimes assassinos e já estão aí prendendo, censurando e querendo mais.

Quanto à manipulação dos ignorantes, você tem certa razão. O medo do comunismo permite conquistar corações de alto a baixo, mas nosso problema é mesmo chegar aos ignorantes que hoje são manipulados por vocês. Se dependesse só de quem sabe realmente ler e escrever vocês não teriam chance alguma numa eleição.

E com isso deixamos o garoto petista do UOL que concordou comigo - veja só como esse mundo é estranho. Tão estranho que quem discordou foi a Gazeta do Povo, onde Diogo Schelp escreveu Medo do comunismo e pauta de costumes são temas ilusórios de oposição a Lula, que começa assim:

A oposição ao governo Lula precisa rever sua agenda se quiser ter alguma chance de evitar a continuidade do PT no poder nas eleições de 2026. O atual foco dos oposicionistas no Congresso Nacional, de explorar o "medo do comunismo", buscando o desgaste de Lula em instâncias como a CPI do MST, lembrando sua amizade com ditadores de esquerda ou realçando as pautas progressistas do partido nos costumes, não tem futuro. Tudo isso tem alguma importância apenas até esbarrar na questão econômica. A direita precisará mostrar que é mais capaz de melhorar a vida das pessoas — e que Lula é um fracasso nesse campo. E é isso que conta.

Tudo conta, Diogo, o maior problema do seu discurso é negar a existência do voto ideológico. Supondo que o Lara ainda estará lá em 26, ao menos um terço do eleitorado vai votar contra ele de qualquer jeito. Se você subir esse percentual (porque o cara tem medo do PT tirar sua liberdade, fechar sua igreja ou que seja), tanto melhor.

Claro que precisa falar em economia, mas além de 2026 estar muito longe, a sua ideia de "melhorar a vida das pessoas" é muito limitada. Eu considero que a minha vida vai melhorar se o governo não ameaçar minha liberdade, não se ele abrir uma linha de crédito ou coisa parecida (que se der certo o próximo manterá).

E não sou só eu. Na última eleição nós vimos vídeos em que eleitores com sotaque nordestino elogiavam várias ações positivas de Bolsonaro e diziam que iam votar... no Lara "porque não tem nada a ver". Os próprios petistas reconheciam que não havia como contestar o que o governo havia feito para "melhorar a vida das pessoas", mas...

Se a regra fosse a que você diz, com o que fez nas condições terríveis que pegou, Bolsonaro deveria vencer com uns 80% dos votos. Aliás, Diogo, você segue sua regra? Ou também desconsidera os resultados práticos e se deixa até levar por fantasias para tentar justificar racionalmente seu voto? Seu último parágrafo responde:

A oposição terá que convencer os brasileiros de que estariam muito melhor se uma direita responsável e democrática, sem apetite para aventuras autoritárias e políticas excludentes, estivesse no comando do país em um contexto econômico externo e interno favorável.

Taí. O que você realmente quer a gente sabe, Dioguinho, seu discurso é aquele velho, desmoralizado, da "oposição" tucana que garantia que o eleitor não queria agressões, mas uma "campanha propositiva". Aquela em que o PT batia e o arrumadinho respondia que ia fazer mais UPAs e, claro, "melhorar a vida das pessoas".


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