terça-feira, 4 de julho de 2023

Briga de dois

Uma das coisas que mais cresce no Ocidente como um todo é o voto ideológico. É claro que, tomando o exemplo americano, sempre existiu quem só votasse nos democratas ou nos republicanos, mas atualmente essas posições são mais radicais e afetam um número cada vez maior de eleitores.

É o esperado. Quando o sujeito falou da "economia, estúpido" não havia a luta cultural de agora. A briga entre o democrata e o republicano era mais parecida com a de dois integrantes de partidos do Centrão discutindo quem trará mais empregos para a cidade do interior. Hoje parece a de muçulmanos contra hindus ou coisa equivalente.

Por aqui, as pesquisas não devem estar longe da verdade quando dizem que nós temos cerca 27% de petistas e outro tanto de bolsonaristas. Números que crescem na hora da eleição porque esse pessoal só deixa de votar por motivos de força maior. A maior parte dos 26% que não comparecem ou anulam sai dos 46% restantes.

Por aí você percebe a dificuldade de emplacar uma terceira via e levá-la ao segundo turno. É quase uma impossibilidade prática, calculando por alto seria necessário atrair o apoio de uns 70 a 80% dos que pretendem votar e não se consideram apoiadores do PT ou antipetistas (bolsonaristas).

Frente a essa situação, a turminha tucana (a terceira via com seus jornalões e o restante) reage de uma maneira que tem sua lógica: até ontem o pessoal antipetista votava neles e isso mudou com Bolsonaro, portanto, basta tirar o enxerido da jogada para tudo voltar ao que era antes.

Claro, Bolsonaro é uma pessoa e o PT um partido. Porém, na prática, o PT depende do ex-presidiário como o PDT dependia do Brizola. Do outro lado, a parcela conservadora que era mal representada pelo tucanismo e se expressou através de Bolsonaro estava esperando há décadas por uma opção e dificilmente voltaria ao passado.

Esse conservadorismo possui setores como o ligado ao agro, o evangélico e outros, que não apenas são fortes, mas são ideologicamente consistentes e se interpenetram com grande frequência. E Bolsonaro tornou-se um aglutinador dessas tendências, mas elas hoje muito provavelmente continuariam unidas sem ele.

O núcleo ideológico do petismo é bem menor, formado basicamente pela turminha doutrinada nas faculdades. Seu grande eleitor é o semianalfabeto que vota no partido porque o condenado é nordestino e criou as bolsas para ajudar o pobre (o que é mentira, mas é o que ele acredita).

O tucanismo já está entrando naquela fase de tentar se vender como antipetista, o que era fácil de prever. A curiosidade é o que eles vão fazer quando perceberem que o truque não está dando certo. Creio que a primeira ideia era descartar o condenado e emplacar o Chuchu, porém é provável que eles precisem estender a parceria.

Mas isso vai até quando? O sujeito já está velho e não deixa nada florescer ao seu redor. Aumentar as arbitrariedades quando o outro lado tem consciência do que está acontecendo só fomentaria a divisão e o desejo de vingança. Eles levariam a coisa ao auge, numa ditadura aberta, sem internet e o restante?

É o que veremos nos próximos tempos.

Pesquisas

Considerando a vantagem que é ter o voto ideológico, uma pesquisa como a que citamos ontem, sobre o comunismo é importante. Eu comparei a última pesquisa com a anterior e, para resumir, a sensação da "ameaça comunista" entre quem não votou em ninguém cresceu bastante e está agora por volta de 50%.

Obviamente, essa turma não votou em ninguém. Mas, mesmo por alto, ela exemplifica o cara que não é ideológico e pode variar entre um candidato ou outro. E o número parece indicar que há uma boa chance de parte desse pessoal vir para a direita.


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