segunda-feira, 5 de junho de 2023

Potencialmente, na opinião deles

 

A manifestação a favor de Deltan Dallagnol reuniu um pouco mais de gente em sua Curitiba, a capital do "facismo" do Gilmar Mendes, que poderia ser censurado por essa mentira. Ou ele é que poderia querer me censurar, argumentando que, apesar de ter dito literalmente isso, se referia aos julgamentos de Curitiba?

E se eu respondesse ter percebido que ele se aproveitou do tema dos julgamentos para espinafrar a cidade e a região do país que detesta através da expressão literal? A resposta para esse tipo de questão, todos sabem, não depende de uma regra objetiva ou de quem tem razão, mas de quem decide qual interpretação é válida ou não.

Para não sair de Curitiba, foi num jornal de lá que eu li um artigo sobre a participação do Deltan naquele antro que é o Roda Viva, da TV Cultura. Dizia seu autor que, lá pelas tantas, a militante esquerdista Vera Magalhães passou a falar no seu querido PL da Censura (PL 2630) e Deltan a contestou.

Salientando que o PL abre a possibilidade de se fazer uma moderação prévia das redes sociais para evitar todo conteúdo "potencialmente" lesivo a direitos fundamentais, o deputado argumentou que isso poderia ser usado até para censurar trechos da Bíblia que dizem que dentro do lar deve haver uma liderança do homem sobre a mulher.

Foi o que bastou para atiçar os demônios. Não só no programa, mas durante os dias seguintes. O autor do artigo acompanhou o assunto e ofereceu exemplos dessas reações como os copiados abaixo, o primeiro num tuíte da ridícula Daniela Lima, que ainda mostrou o quanto entende dos dois Testamentos:

É triste o país em que uma figura pública se sente à vontade para defender a submissão da mulher ao homem diante de tantos índices crescentes de feminicído. "Não importa se você concorda ou não, tá na Bíblia" [frase de Deltan]. Eu clamo pelos evangélicos que leram mais o novo do que o velho testamento.

O outro foi de um tal Ivan Longo, na Revista Forum, blog sujo do petismo. Detalhe para o bíblia com minúscula e Estado com maiúscula, que indicam por si só como a turma do Ivan pretende utilizar o PL da Censura:

Isto é, o PL visa restringir discursos que fomentem qualquer tipo de opressão nas redes sociais, independente de estar na bíblia ou não. O que Dallagnol prega, com sua fala, é que este tipo de conceito possa sair dos templos e circular livremente no ambiente digital sem qualquer tipo de moderação do Estado.

O autor do artigo no jornal ainda se deu ao trabalho de falar da importância da liberdade religiosa, do respeito que a mulher deve merecer no mesmo lar bíblico e coisas do tipo. Mas adianta?

Imaginem se o Deltan citasse trechos em que a humanidade que se afasta de Deus em troca das atrações mundanas é comparada à mulher que se encanta com os presentes de seus amantes e abandona seu marido. Eles entenderiam e respeitariam? Ou veriam aí uma intolerável afronta à liberdade sexual feminina?

A resposta é a mesma lá de cima, depende de quem decide. Associada ao "potencialmente", essa indefinição lhes permitirá, em caso de aprovação do estrupício dessa PL, censurar quem e o que bem entenderem. Esse perigo continua nos rondando. E continuará, com PL ou não, enquanto o lulopetismo estiver no poder.

Claro que quem votou nessa gente (ou não votou contra ela) não se importa com isso. Esse eleitor já aceitou ser conduzido como gado quando, com nenhuma ação a favor e com todas as provas históricas contra, aceitou a tese de que o governo anterior era "potencialmente" ditatorial e o sujeito retirado da cadeia seria democrático.

Para os demais, para todo aquele que defende a liberdade, em geral só resta fazer o pouco que está ao seu alcance e lamentar que venhamos a perder um tempo imenso para, no máximo, em caso de vitória contra os piores, permanecermos onde estávamos até pouco tempo atrás.

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