A imagem é chocante, mas é preciso lembrar. Houve um tempo em que o preconceito contra os corruptos era tão grande que eles podiam ser processados e, caso condenados em três instâncias, até presos. Mas, como explica Paulo Polzonoff Jr., o mundo evoluiu e agora são os corruptofóbicos que podem acabar no xilindró.
Abaixo a corruptofobia
Depois de décadas de marginalização, os corruptos, tanto ativos quanto passivos, decidiram sair do armário. Por iniciativa do deputado Zé da Zorba, o primeiro corrupto assumido do Brasil a figurar na capa da prestigiada revista Honest Politician, terão início nesta semana as festividades do Mês do Orgulho Corrupto.
"É uma oportunidade para mostrarmos ao Brasil que a corrupção também é uma forma de amor. Amor pela minha Ferrari, pelo meu triplex e, claro, pela minha conta bancária na Suíça", disse Zé da Zorba, que decidiu assumir depois de ser flagrado com a cueca cheia de dinheiro. Para a surpresa de ninguém, a classe política se uniu rapidinho em torno da ideia. Depois de um pouco de chantagem com o uso de relatórios que expunham os feitos de corruptos relutantes, como Amortêncio de Azevedo, presidente do Partido dos Políticos Probos (PPP), o Congresso criou o Mês do Orgulho Corrupto. Com direito a feriado nacional e a criação do crime de corruptofobia – inafiançável, imprescritível e sujeito à perda de mandato pelo TSE.
"O Brasil só vai ser um país mais justo e igualitário quando tivermos erradicado a corruptofobia", comentou outro militante da causa, Gumercindo Paraguaçu, a este repórter. Com intensa roubalheira e maracutaias de todos os tipos, a festa deve reunir deputados, senadores, ministros, militares e funcionários públicos de todos os escalões. A programação incluirá palestras e workshops com temas de interesse desse público: técnicas de suborno avançado, abertura de conta em paraíso fiscal e o vocabulário para o corrupto moderno.
Entre os patrocinadores do megaevento, estão desde os grandes representantes do capitalismo de compadrio até o Seu João das Couves, que paga um cafezinho para o guarda não confiscar a muamba que ele vende na 25 de Março. E em meio à multidão de corruptos famosos e anônimos destacam-se histórias emocionantes de superação da epidemia de corruptofobia que acometeu o Brasil.
Histórias como a do senador Astrogildo de Amnésio, que cresceu numa família de notórios corruptos e sempre teve muita vergonha de seus luxos e privilégios. "Mas agora eu posso viajar de jatinho da FAB e receber uma propinazinha sem me sentir inferior, sem ser atacado pela honestonormatividade", disse ele, em prantos. Outro que insistiu em dar seu depoimento foi o vereador e ex-funcionário fantasma Zuleico Duquistrada. "Eu saí do interior da Paraíba sem um tostão, depois de ter sido expulso de casa pelo meu pai honesto. Mas, graças a uma corrupçãozinha aqui e outra ali, hoje moro numa mansão. É em Osasco, mas ainda assim é uma mansão", disse. Não é uma escolha
"Ao contrário do que dizem os corruptofóbicos, a corrupção não é uma escolha. A pessoa nasce corrupta. E a sociedade tem que respeitar isso. Como disse Deleuze em sua obra-prima...", palestrou a dr. Maria da Cabidela, que fez questão de reforçar ainda que a corrupção não é exclusividade masculina. "Precisamos nos conscientizar da relevância da corrupção feminina. Sem as mulheres corruptas, o mundo não seria o mesmo", disse. Mas, como era de se esperar numa sociedade tão marcada pelo preconceito contra a corrupção, nem todos estão felizes. "A corrupção é o maior problema do país", declarou recentemente um ex-procurador que entrará para a história como uma tentativa fascista de erradicar a corrupção no Brasil. O discurso corruptofóbico também contamina as igrejas cristãs, que insistem em considerar a corrupção um pecado mortal. Alheias a isso e concentradas em contar notas de cem euros, as entidades que promovem o Mês do Orgulho Corrupto "contrataram" agências de publicidade para lavar dinheiro e inundar telenovelas, jogos de futebol e até desenhos animados com simpáticos personagens que vão mostrar o lado belo e lúdico da corrupção. Elas também prometem um grande mutirão para pintar hospitais inacabados, escolas em ruínas e os estádios de futebol da Copa de 2014 de vermelho petê – cor escolhida para simbolizar o movimento. Estima-se que a festa movimente 33,71% do PIB em impostos desviados, propinas, subornos e pixulecos dos mais diversos. A comissão média a ser cobrada durante a festa do Mês do Orgulho Corrupto será de 13%.
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