sexta-feira, 16 de junho de 2023

Burrice tóxica

O assunto em si é meio chato, mas acho que, com as exceções de sempre, todo mundo vai entender que a questão é o padrão. Trata-se da acusação contra Robinho e do áudio, obtido por um grampo da polícia espanhola, que o UOL apresentou esses dias como decisivo para a sua condenação por lá.

Claro que eu não ouvi o troço. Mas li os artigos de gente como Milly Lacombe, que, como esperado, se mostrou escandalizada com a selvageria ali contida e se achou no direito de exigir que os boleiros brasileiros se voltassem contra o Neguinho (é ele quem usa o apelido) como se voltaram tempos atrás contra seu amigão Casagrande.

Continuei sem ouvir o troço. Mas dei uma olhada na transcrição dos trechos destacados pela turminha da Milly, que devem ser os que lhes pareceram mais graves. São conversas de uma galera que pelo jeito vive na noite, com tudo que ali acontece, naquele clima que até quem nunca dormiu tarde pode imaginar.

São trechos soltos. Um amigo diz que "estava todo mundo rangando a mina". Outro fala que "tem que dar porrada na boca dessa mina". E o próprio Neguinho ri da possibilidade da moça acusá-lo de estupro, dizendo que ela estava tão bêbada que nem o reconheceria.

Com isso, os mililacombistas montaram uma história em que uma pobre menina, que por acaso abusou da bebida, sofreu um estupro coletivo e ainda correu o risco de ter a cara arrebentada pela gang de malvadões. O único problema é que isso não combina com a transcrição completa dos trechos que eles mesmos escolheram.

A "porrada na cara" era o que os integrantes da patota, indignados, diziam que a fulana mereceria por acusá-los falsamente de estupro, uma forma de falar que não gerou agressão alguma. E Robinho contava que em nada forçou a pinguça, que lhe fez inclusive sexo oral.

Sem este último detalhe até se poderia defender a versão de que la chica caiu de bêbada e os malandros aproveitaram para "rangá-la". Mas a mencionada atividade exige uma certa ação. Desculpem dizer assim, mas será que a coitadinha é sonâmbula e quando desmaia sonha que a mamãe está lhe dando uma mamadeira?

Repito: a história não bate com as provas que eles mesmos apresentaram. Mas gente como a Milly não está nem aí para isso. Eles têm alguns enredos prontos na cabeça e lhes bastam umas palavras soltas ("bêbada", "soco na cara") para colocá-lo em cena como se fosse uma antiga peça com novos atores.

E é assim com "vacina", "ato antidemocrático" e o que mais inventarem. Apenas para não sair do tema, pegue o caso da Rosário com Bolsonaro, que retomaram. Ela defendia um estuprador que ele queria castigar. Ela o acusou de ser estuprador. E ele, no mesmo tom, respondeu que era sim e só não a estuprava porque ela não merecia.

Onde está o crime? Em não estuprá-la? Em insinuar que não a rangaria porque ela é feia? Se existe crime aí é da escandalosa, que acusou o cara de ser estuprador. Mas a peça que os alucinados têm na cabeça é outra e só lhes interessa ouvir as palavras soltas que lhes permitirão montá-la e vendê-la a alguns ainda mais idiotas que eles.

Enquanto escrevia eu buscava um nome para descrever esse comportamento. E não sei se é muito bom, mas acabei ficando com o que virou título: burrice tóxica. Nada pessoal contra o seu amigão Casagrande, viu Milly?


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