Talvez pelo histórico e pela idade (completará 80 em julho próximo), J. R. Guzzo é uma das poucas vozes contrárias à ditadura e à censura que ainda encontra espaço na chamada - não pela honestidade, obviamente - grande imprensa brasileira. Sua mais recente coluna naquele jornal admirado no passado começa assim:
Uma noção perigosa se espalhou ao longo dos últimos anos na sociedade e na vida pública brasileiras – a de que os cidadãos descritos como sendo de "direita", de "ultradireita" ou simplesmente bolsonaristas não são de fato cidadãos como os demais e, nessa condição, não devem ter os mesmos direitos. Os defensores mais agitados dessa maneira de pensar acham, até mesmo, que não deveriam ter direitos. A ideia geral é bem conhecida. Essas pessoas são "contra a democracia" e se são contra a democracia não podem se beneficiar das leis democráticas – se tiverem sua proteção, vão "usar" essas mesmas leis para dar um "golpe" e criar uma "ditadura" no Brasil. A partir daí, fica valendo qualquer violação da lei e da Constituição – é para evitar um "mal maior" e "salvar" o Brasil. Está integralmente errado. O resultado objetivo disso é que, para salvar o País de uma suposta ditadura no futuro, cria-se uma ditadura real no presente.
Depois Guzzo fala da prisão de Anderson Torres, que, num tratamento que não é dado nem a quem já cometeu crimes graves, está detido há quatro meses "para averiguações", sem que absolutamente nada tenha sido encontrado contra ele. E recorda como agora se calam os "garantistas" que pulavam por aí no tempo em que o maior corrupto do país precisou ser condenado por unanimidade em três instâncias para ficar alguns poucos meses numa cela que mais parecia um apartamento.
Seguindo viagem, o paralelo entre bolsonaristas no atual regime e judeus na Alemanha nazista é mais do que evidente. A diferença é que, por aqui, os bolsonaristas não são uma minoria que poderia ser eventualmente eliminada, como os nazistas sonhavam em fazer por lá.
Pelo contrário. Ontem, por acaso, eu passei o dia cruzando o estado mais rico da nação para chegar àquela parte dele onde o ministro seguiu o exemplo de seu chefe e fugiu da feira para não expor a sua (falta de) popularidade. E, como ocorre no agro a nível nacional, praticamente todo mundo é bolsonarista (ou antinazipetista) por lá.
Nem precisamos falar da importância da agricultura para a nossa economia. E não é só nesse setor ou só numa parte do país que quase todos detestam a corrupção, a censura, as prisões e os demais aspectos do nazipetismo. Verifique entre os empresários e seus empregados mais qualificados. Entre profissionais como os médicos.
Se nossos nazistas partissem para a solução final, isso aqui se transformaria numa espécie de Haiti repleto de criminosos, multidões de analfabetos, muitos funcionários públicos, alguns cantores e inúmeros jornalistas e sociólogos. Um país caótico que, tendo eliminado quem o sustentava, não sobreviveria sem ajuda externa.
Em suma, não é como se os judeus fossem perseguidos na Alemanha de 1930, mas hoje, dentro de Israel. Não vamos tentar elencar os motivos disso, que são muitos e começam pelo fato do desocupado se dedicar à política enquanto o médico se dedica aos pacientes e o empresário à empresa. Mas nossa situação é extremamente curiosa.
Existem também os cínicos e aproveitadores. Olhando por aí, vi que a turminha do MBL está pensando em sair às ruas contra a censura. Mas todos nós sabemos que a melhor maneira de combater esse flagelo seria votar contra o nazipetismo. Portanto, salta aos olhos que os garotos fizeram o contrário porque queriam ter uma censura para teatralmente se apresentar contra ela e, no fim, tentar tirar mais alguma grana de otários. Mas tem quem ainda os leve a sério e tente propagar seus "ideais".
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