quarta-feira, 10 de maio de 2023

Desclassificados

Eu tive aula de Ética Profissional na faculdade. E tive um professor, de outra matéria, que nos chamava de trouxas por perder tempo com aquilo porque, segundo sua definição, ética era um negócio que os que estavam estabelecidos no ramo haviam inventado para dificultar a entrada de novos concorrentes.

Na engenharia e outros ramos talvez não seja tanto assim, mas no jornalismo...

Basta ver a usina de DOFN (discursos de ódio e fake news) que funciona a pleno vapor em jornalões como a Foice, criticada pelo próprio ombudsman quando não trata seus adversários políticos como monstros a exterminar. Quisesse esse pessoal combater DOFN, começaria por si mesmo, não pelas redes sociais.

Porém, ainda que não fosse assim e eles exigissem mais circunspeção de seus empregados (ou equivalentes), que são poucos e podem ser demitidos caso não se enquadrem, como poderiam estender essa exigência às redes em que o problema é o que dizem milhões de usuários que não devem obediência à plataforma?

Basta lembrar do tempo em que eles tinham problema equivalente, quando aqueles enormes cadernos de classificados os transformavam em "plataformas", nas quais, pagando, qualquer "usuário" podia postar/publicar quase tudo que lhe desse na telha.

Quantas falsas ofertas de emprego ou veículos circulavam por ali? Quantas armadilhas? Quantos crimes nasceram nos classificados? Um curso com fachada bonita podia ser uma completa picaretagem. Ou alguém bem intencionado, mas equivocado, podia oferecer um seminário de comunicação mental com os ETs.

Como determinar o que era fake e impedir sua divulgação? E quando foi que alguém pensou em responsabilizar as plataformas que permitiam essas postagens pelos golpes de algumas destas?

Na época eles não impediam nada (nem conseguiriam fazê-lo), deixavam que cada leitor tomasse sua decisão. Se o sujeito resolvesse botar o dinheiro no bolso e se encontrar na quebrada com quem lhe prometia um carro zero por 15 mil reais, era problema dele. E era mesmo, cada um que cuide de si.

Agora, no entanto, dizem querer cuidar do pobre leitor que se transformou em alguém incapaz de pensar por si mesmo. E querem que isso seja feito por outros quando não conseguiam fazer nada parecido numa escala muito menor. Essa é, sem dúvida, a "ética" a que o professor cínico se referia.

Como sabemos, os jornalões ajustaram um pouco sua posição depois que a parte que lhes interessava no PL da Censura foi retirada. Hoje eles nem caíram na armadilha de querer calar o Telegram por fazer um editorial semelhante a tantos que já fizeram. Falando em ética, esse trabalho ficou a cargo dos colunistas que menos a têm.

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