Me limitei à Foice, mas é interessante ver o que diziam os jornais como ela, que hoje são governo e na época militavam na oposição, há exatamente quatro anos, em 2019. O nome dos autores nem interessa, mas os títulos de suas colunas já revelam o tom da coisa.
As mais destacadas eram "O incrível homem que derreteu" e "A retirada de Bolsonaro", ambas baseadas na incrível falta de popularidade que a gente não conseguia ver em lugar algum, mas o Datafoice detectava em suas famosas pesquisas.
Era o começo do seu uso com esse objetivo, pois até meados de março, antes da pandemia ser oficializada por aqui, as pessoas podiam se reunir livremente e ninguém teria coragem de dizer que um sujeito que era festejado aonde fosse e levava multidões de defensores às ruas havia perdido apoio popular.
Depois isso pioraria. Os petistas fariam meia dúzia de panelaços com caixa de som na janela e, sempre apoiados pelas "pesquisas", jornais como a Foice teriam o desplante de dizer que isso comprovava que Bolsonaro havia perdido ainda mais apoio e os deputados deveriam derrubá-lo para atender ao clamor do povo.
Imagine se adotassem o critério hoje, quando o ex-presidiário colocado na presidência se mantém escondido do povo como durante toda a campanha. Ou, ao contrário, se os petistas tivessem feito um protesto em Brasília em janeiro de 2019 e centenas deles permanecessem presos de maneira irregular.
A propósito, também havia uma coluna chamada "Em defesa do Supremo", que tratava daquele pobre poder tão atacado pelos inimigos da democracia. Imagine, de novo, o escândalo que as Foices da vida fariam se um de seus integrantes dissesse do ex-detento o que muitos deles diziam (e dizem) de Bolsonaro.
Ainda havia declarações do poderoso Rodrigo Maia, o balofo escroto da época, hoje escondido em algum canto por aí. E de Luciano Huck, que em 2019, apadrinhado por FHC e outros adeptos da terceira via, começava a trilhar o caminho que quase o tornou presidenciável.
No âmbito local a manchete era "Aos 100 dias, Doria busca criar uma alternativa sem ruptura com Bolsonaro". Sim, houve esse tempo em que o Docinho já queria trair, mas ainda se sentia na obrigação de respeitar quem o elegeu. Depois ele mesclou o olho no negócio das vacinas de segunda linha com a crença nas "pesquisas" e...
Bolsonaro ainda prometia "travar a Lei Rouanet" com teto de 1 milhão (pobre Cláudia Raia!), havia uma mudança de ministro na Educação (que não serviu para nada porque as aulas logo pararam) e coisas do tipo.
Por fim, uma manchete para deixar saudades: "Após visita de Neymar, Pelé deixa o hospital".
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