Em artigo da Gazeta do Povo sobre a filosofia de Soros (sim, aquele), Bruna Frascolla diz que seu principal ponto é a aplicação às ciências sociais (e ao comportamento humano em geral) de uma espécie de ampliação da descoberta quântica de que o observador afeta o resultado da observação.
Em resumo, a razão humana teria sempre duas funções: a cognitiva e a manipulativa. No popular: ninguém é neutro. O sujeito começa a estudar um assunto e, mesmo com a intenção consciente de ser o mais objetivo possível, já adota um viés e passa a tentar convencer os outros de que está certo.
Obtendo sucesso no aspecto manipulativo, o raciocínio do estudioso pode gerar inclusive uma profecia autorrealizável. Um grande exemplo disso seria Marx, cujas teorias, pretensamente objetivas e reveladoras de uma mecânica inescapável, levaram tantas pessoas a tentarem cumpri-las o mais rapidamente possível.
Como o barbudão jogou suas previsões para o futuro distante, fica muito difícil contestá-lo definitivamente. Não fosse assim, ele poderia também exemplificar o que Soros chama de "falácias férteis - interpretações da realidade que, embora distorcidas, produzem resultados que reforçam a distorção".
Como a distorção acaba por ser descoberta, essas falácias se sustentam por um tempo limitado, criando uma onda que sobe e desce. Eu pensei num esquema de pirâmide. Soros aplica a teoria às bolhas do mercado financeiro e faz até um gráfico para mostrar como ganhar mais alguns tostões com elas.
Essa, porém, é outra regra que o nosso investidor-pensador trata como universal. Estamos num mundo em que as falácias férteis se repetem em várias escalas, dos grandes movimentos filosóficos às teorias sobre a humanidade que não resistem a algumas horas de exposição num portal.
E Soros acredita que a função cognitiva é o motor sincero de muitos, mas, goste-se ou não, é a manipulativa que acaba predominando. Resumindo com minhas palavras, vivemos num grande mercado de ideias em que pilantras conscientes e pilantras inconscientes tentam o tempo todo aplicar golpes uns nos outros.
É possível até que parte do sucesso do Karl se deva ao fato dele ter dado um verniz aparentemente respeitável para essa tendência ao afirmar que, depois de estudarem demais o mundo, os filósofos (cientistas sociais ou o que seja) deveriam dali em diante se dedicar a mudá-lo.
O problema é que, hoje em dia, a Márcia Kulaico é chamada de filósofa e até o estagiário de jornalismo doutrinado pelo professor esquerdista se considera um pensador cuja missão é guiar a sociedade. O enfoque manipulativo dessa gente se exacerbou como nunca e o cognitivo é cada vez mais deixado de lado.
Em outras palavras, pessoas como a Márcia e a maioria dos nossos jornalistas não tentam nem mesmo aprimorar suas teorias. Estão tão preocupados em manipular os demais que acabam manipulando apenas a si mesmos. O que para nós, que vendemos outro peixe no mercado de ideias, não deixa de ser favorável.

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