quinta-feira, 16 de março de 2023

Sem Waterloo

Duas imagens que eram bastante comuns décadas atrás desapareceram quase por completo de uns tempos para cá. Uma delas era a do homem pré-histórico que "conquistava" sua companheira de caverna dando-lhe uma marretada na cabeça e arrastando-a pelos cabelos para o novo lar.

O comportamento era apresentado como normal para aquela época, tanto em que havia versões em que a moça emitia uma coraçãozinho para mostrar graficamente o seu agrado. Mas se tratava de uma alegoria humorística que ninguém levava a sério.

Imagine se fosse verdade, um errinho na força da pancada e o cara ficava viúvo antes de se casar. Ou pense na dificuldade de arrastar alguém pelos cabelos e o estado em que ficaria a arrastada depois de algumas centenas de metros.

O rapto de mulheres realmente acontecia e ainda era um hábito corriqueiro em sociedades muito mais próximas de nós que das cavernas, como a mongol da época do Gengis Cã. Mas nunca assumiu a forma com que era retratado.

Era, deixou de ser. E não por incorreção histórica. Com o avanço da agenda feminista e da absoluta falta de humor dos idiotas politicamente corretos, quem hoje publicar uma coisa dessas corre o risco de ser acusado não apenas de machismo, mas de estímulo à agressão de de mulheres e todo o resto.

O outro desaparecido é o "Napoleão de hospício", o doido arquetípico que confundia sua fantasia com a realidade. Em parte, trata-se de uma questão histórica. Napoleão é uma figura relativamente recente, datada, que era muito mais lembrada há cem anos que há cinquenta e há cinquenta mais que hoje.

Como o Imperador foi poderoso em sua época de glória, a caricatura ganhou uma pequena sobrevida como forma de ridicularizar os que julgam ou pretendem ter muito mais poder do que está ao seu alcance. Mas o que determinou seu quase já completo banimento foi outro detalhe.

O acometido pelo mal pensa ser outra pessoa, se sente verdadeiramente como alguém que não é. E não dá para o sujeito dizer que Alfredinho é louco porque se sente como Napoleão sem que, mesmo contra a sua vontade, alguns de seus neurônios se conectem e acendam uma luzinha que lhe informa que a fórmula geral da coisa é:

Y é pirado porque acredita realmente ser X.

A solução foi liberar tudo. A moça se sente um bebê e vive de fraldas, o outro se sente um cachorro e passa a latir, tudo bem. Está tudo liberado, ninguém mais é louco, todo Y pode se sentir como X e os outros é que precisam aceitar que isso é real. No mundo alternativo, Napoleão venceu a guerra.

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