sexta-feira, 17 de março de 2023

A hora do desespanto

Até parece que eles queriam esconder alguma coisa. Nunca tivemos tão poucas informações sobre os detalhes de uma eleição como em 2022. Em quem votaram os evangélicos? Os ricos? Os pobres? Ninguém fala disso, não sabemos, pois as pesquisas de boca de urna simplesmente desapareceram.

Talvez tenha sido por receio de ver logo depois outra pesquisa lançar dúvida sobre os números da eleição, sei lá. O fato é, entre essas omissões, acabamos não sabendo como votaram os detentos com direito a voto no segundo turno, pois a informação existe, mas seria necessário somar todas essas seções e ninguém fez isso.

Mas fizeram no primeiro turno. E o resultado entre os dois candidatos que chegaram ao segundo turno foi uma lavada de 80,59% a 15,79%.

Claro que não é preciso dizer com quem os criminosos se identificam. É aquele mesmo que se dedicou a manter o apoio dos meliantes chamando-os de "meninos que só querem tomar uma cervejinha" (todos os presos "dimenor" podem votar).

Sim, não é aquele candidato que levava milhões de pessoas às ruas e andava em qualquer lugar do país, da pizzaria ao estádio de futebol lotado. Os bandidos gostam é do que fazia comício fechado com tapume, entrava nos hotéis rapidamente pela porta lateral e morria de inveja das motociatas do adversário.

Tanto invejava que um dia fez a sua. Mas numa região dominada pelo crime organizado, uma daquelas em que o candidato adversário foi proibido de fazer propaganda. Imagine se fosse o contrário, o escândalo que não faria aquela imprensa que só não está na cadeia porque deturpar fatos com certo jeitinho não é crime.

Por isso, qual é a surpresa da esposa do criminoso do RN ter dito que a "família do crime" votou unida no partido do cara e quer ver a contrapartida? Se as principais facções mandaram votar no partido que lhes interessa e o pessoal dos presídios obedeceu, por que seus familiares não obedeceriam fora dali?

Qual é a novidade do líder do partido ter se dirigido novamente a seu eleitor esses dias ao dizer que tem muita gente inocente presa? Aliás, tem mesmo. Mas, vindo de quem vem, essa declaração não tem nada de constatação inocente, é outro apito de cachorro que a sua matilha escuta muito bem.

E qual é o problema daquele gordão entrar numa boa em outra área dominada pela bandidagem? Espantoso seria se os bandidos o atacassem para tentar intimidá-lo, como fizeram com o então candidato Tarcísio em São Paulo. Ali, onde todos fizeram aquela letra, não poderia ser de outro modo.

Num país em que tiram um cara da cadeia e o colocam na presidência tudo isso é muito normal, faz parte da vida. É preciso se adaptar. É hora da gente fazer como a nossa imprensa e parar de se espantar com essas coisas.


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