Em 2016 o Datafolha concluiu que o Brasil tinha 29% de evangélicos. Mas o segmento só cresce e, em pesquisa do mesmo instituto em janeiro de 2020, esse número passou para os 31% que foram amplamente utilizados nos últimos tempos como base para estimar o total de adeptos dessas religiões.
Na verdade, como a gente cansou de lembrar aqui, era errado continuar falando em 31% no ano passado porque o fato de uma nova igreja evangélica ser aberta em média a cada duas horas era apenas um dos indícios de que esse público continuava a crescer. Devíamos estar, no mínimo, com um terço de evangélicos na época da eleição.
E aí é que se entra naquela história de não ter pesquisa de boca de urna no segundo turno. Se as tivéssemos, era só fazer algumas contas simples para detectar qualquer possível incoerência entre o amplo apoio que sabemos que Bolsonaro tem nesse segmento e o que as pesquisas viessem a dizer.
Ressalte-se que o mesmo Datafolha esteve entre os institutos que tentaram justificar previamente essas diferenças, chegando a anunciar que o presidente Bolsonaro estaria praticamente empatado com o ex-presidiário irregularmente descondenado entre o público evangélico.
Porém a mentira era desmoralizada pelos líderes evangélicos e pelo próprio jornal, que, na notícia ao lado da falsa pesquisa trazia um petista evangélico confessando que se sentia uma gota d'água num mar de bolsonaristas ou o anúncio da última grande ideia lulopetista para, enfim, "falar com os evangélicos".
Tanto foi assim que eles acabaram desistindo de bater nessa tecla e admitindo a realidade, embora sem oferecer os percentuais da boca de urna para deixar a dúvida no ar e evitar contestações numericamente embasadas.
E agora que a eleição passou eles podem inclusive se dar ao luxo de fingir que se atêm aos fatos e confessar que o apoio a Bolsonaro é imenso no setor. Estão saindo vários artigos sobre isso e, ontem mesmo, uma das manchetes da Folha falava por si: Evangélicos sob Lula querem distância da esquerda e torcem por Bolsonaro Fênix.
O problema é que com isso eles estão jogado a bomba para a frente. Se o apoio a Bolsonaro é maciço e os 33 ou 34% de evangélicos da última eleição se tornarem 36 ou 37 na próxima, será muito difícil minimizar sua votação no setor novamente. Certo? Errado, eles pensaram nisso também.
Milagre, milagre!
Foi ontem que eu descobri que, quietinho, sem fazer alarde, enquanto todo mundo citava seus 31%, o Datafolha fez outra pesquisa sobre religião durante 2022 e concluiu que o número de evangélicos misteriosamente se desmultiplicou. Agora, segundo o instituto, eles são apenas 26% da população.
Eles crescem, mas diminuem. É um verdadeiro milagre.
O que não tem nada de sobrenatural é a previsão de que, tal como o "orçamento secreto" se transformou em "emendas do relator", esses 26% se tornarão quase oficiais daqui para a frente. Logo eles farão de conta que nunca falaram de 29% em 2016 e de 31% em 2020. O máximo que pode acontecer é o Ipec encontrar 25%.
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