Pois voltamos ao Ex-tadão. Domingo último, um de seus editoriais criticou o lulopetismo, mais especificamente o seu discurso de que o atual desgoverno tem que dar certo para evitar o retorno do fascismo bolsonarista. O jornalão, viúva da terceira via que fez o L, não gostou:
O governo Lula da Silva escolheu o tipo de oposição que mais lhe apraz. É essa direita radical, ignorante e golpista que, há cerca de dez anos, deixou de ser uma franja no mosaico político-ideológico da sociedade brasileira para se tornar uma força política capaz de mobilizar parcela considerável dos eleitores, culminando na eleição de um inimigo declarado da Constituição de 1988 para a Presidência da República.
Os eleitorados que se enfrentaram no segundo turno da última eleição são bem distintos. O Molusco é campeão nas regiões mais atrasadas, entre os criminosos, os analfabetos e os semianalfabetos. Do outro lado está a imensa maioria dos que tocam realmente o país, têm mais informação e mais capacidade de decidir por conta própria, sem cair nas manipulações comuns em nossa imprensa.
Deve por este último aspecto, com raiva por ver seu jornal cada vez mais desmoralizado e desprezado entre esse público que em outros tempos foi o seu, que o editorialista decide ofendê-lo chamando-o de "radical, ignorante e golpista".
Afinal, qual foi o mal de Bolsonaro? Ter sido incompetente ou corrupto? Ter tentado implantar a censura e prender adversários ao arrepio da lei? Não, nada disso. Sem ter onde se apegar, o editorialista o chama de "inimigo da Constituição", uma acusação boboca que não significa nada, entre outros motivos porque a atual Constituição só passou a existir depois que a anterior ganhou muitos inimigos.
(...) A novidade é a tentativa do governo de reavivar o discurso da polarização com a direita radical no momento em que os fatos começam a empurrar os extremistas de volta para o nicho da irrelevância ao qual eles sempre pertenceram.
Ora, Ex-tadão, quem fomentou essa polarização foi gente como você, que tentou justificar seu apoio ao lulopetismo com a fantasia de que Bolsonaro era um monstro contra o qual todos deviam se unir. O Molusco só deitou na cama quente que vocês lhe arrumaram.
E por que o Ex-tadão se preocupa? No seu plano, Bolsonaro terminaria com a derrota eleitoral e seus desconsolados eleitores passariam a seguir quem se apresentasse como inimigo do lulopetismo após tê-lo apoiado. Lhe sobrariam, talvez, aqueles 12% de suas famosas pesquisas. Só que tudo isso é falso, quem anda nas ruas sabe. Aliás, se não fosse, por que o Ex-tadão se preocuparia com a "polarização" que diz ser estimulada pelo desgoverno?
(...) Para neutralizar a retórica salvacionista do lulopetismo, no entanto, é dever cívico da direita civilizada e democrática se recompor. Se, como força política representativa, essa direita será capaz de gerar uma liderança que conquiste corações e mentes da maioria dos eleitores, o tempo vai dizer. (...) A enorme dificuldade que Lula teve para derrotar Bolsonaro no segundo turno da eleição passada autoriza a inferência de que, fosse outro o adversário do petista – um representante da direita responsável, liberal e democrática –, talvez Lula não tivesse saído vitorioso daquele pleito. O presidente decerto sabe disso, daí seu estímulo à sobrevivência política do golpismo bolsonarista como espécie de fantasma a assombrar a democracia brasileira – que só Lula, evidentemente, se julga capaz de salvaguardar.
Inferência você faz a que quiser. O fato é que Bolsonaro foi o único candidato a derrotar o PT em 20 anos e só não repetiu a dose por um mínimo e nas condições que sabemos, que incluem a traição de muitos que se diziam antipetistas. Outro fato é que ninguém foi impedido de tentar, mas os demais candidatos pouco passaram do traço no primeiro turno.
E "direita civilizada e democrática" é a "verdadeira direita" ou "terceira via" de outros. Quem será que Ex-tadão imagina nesse papel? O Docinho, que terminou o mandato sem conseguir andar na rua? Outro fazedor de L? Será que o eleitor realmente mais à direita, que votou em Bolsonaro, vai esquecer de tudo em 26 e votar em quem apoiou o retorno do ex-presidiário irregularmente descondenado?
Quem queimou a terceira via para a próxima eleição é quem a uniu ao lulopetismo na passada. O ex-detento não tem o poder de estimular nenhuma corrente política adversária com suas palavras. O que ele está lembrando é que os fazedores do L se amarraram com ele e não conseguirão se livrar tão facilmente desse abraço.
É isso que incomoda o editorialista que só não vê "golpismo" onde ele realmente existe. Na próxima eleição ele mais uma vez não conseguirá se fingir de "direita democrática". Vai fazer de novo o L, pode apostar. E acabará ainda mais desmoralizado do que já está.
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