Depois de afundar o site que ameaçou ser um marco do nosso jornalismo para defender indiretamente a eleição do descondenado, o anta Mário Sabino foi trabalhar no Metrópoles, onde, dias atrás, escreveu EU ACUSO, em que critica a própria imprensa de maneira surpreendente.
Começando pelas mudanças trazidas pela internet, ele confessa que, apesar do alarido contra as fake news, as redes sociais em geral divulgam fatos reais e é por elas que as pessoas atualmente se informam, não pelo jornalismo tradicional, que se tornou apenas uma fonte entre outras. Nas palavras do próprio Mário:
A verdade - essa senhora que achamos ser nosso patrimônio exclusivo - é que somos cada vez menos importantes na vidas das pessoas.
E a culpa é da própria imprensa, que não engana mais ninguém quando insiste em vender uma suposta objetividade e uma inexistente imparcialidade. Para defender esse ponto, Mário cita trechos de um artigo recentemente escrito pelo articulista Bret Stephens, do New York Times. Entre eles:
Não somos defensores desinteressados da democracia. Somos atores no interior dessa democracia, com um poderoso megafone que, às vezes, usamos de forma problemática.
Não estamos no negócio da "verdade", ao menos não com V maiúsculo. Nosso trabalho é coletar e apresentar fatos relevantes ou boas evidências. Além desse ponto, a verdade rapidamente se transforma em questão de interpretação pessoal, "experiência vivida", julgamento moral e outras considerações subjetivas que afetam todos os jornalistas, mas não devem enquadrar suas coberturas.
Ao analisar como a imprensa vem tratando os portadores de armas, apoiadores de Trump e conservadores em geral, Bret afirma:
Neste momento, grande parte do jornalismo convencional está falhando na tarefa de ser objetivo e imparcial, tratando essa parte dos Estados Unidos com condescendência e xingamentos (racista, desinformado, fóbico e assim por diante). Um dos propósitos da objetividade da reportagem é que ela pode forçar a imprensa a ouvir todos os tipos de pessoas, sem lançar calúnias morais ao mesmo tempo em que permite que essas pessoas se vejam e se ouçam representadas na mídia de uma forma que não seja o menosprezo e a depreciação. Essa é outra boa maneira de reconstruir a confiança.
Concluindo seu artigo, Mário reconhece que o mesmo vale para o Brasil, onde a maioria dos jornalistas está do lado esquerdo da força e considera perfeitamente lícito censurar quem pensa de outro modo e misturar informação com militância. O que termina por erodir em definitivo a confiança na imprensa.
Onde está a surpresa?
Lá no começo eu usei um "surpreendente", mas tudo o que veio depois é o que nós todos estamos carecas de saber e já cansamos de escrever. Bem, a enorme surpresa é que um jornalista precise dizer essas coisas para seus colegas como se fosse uma novidade, que estes ainda não tenham atentado para elas.
Como dizíamos em "Pedra e Vidraça", a situação se inverteu e hoje a imprensa é um aquário fechado em si mesmo que é observado pelos leitores. Ela ainda tem o "poderoso megafone", mas o usa muito mal e cada vez menos gente lhe dá atenção.
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