terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Vai e volta, Violante

Alô, Brasil! E a dica cinematográfica da semana é Dona Violante Miranda. Eu assisti um bom pedaço e garanto: quem não viu não perde nada além da Odete Lara gata em 1960. Mas o que importa é o tema dessa comédia sem graça, tão genuinamente brasileiro que hoje se repete em outras áreas como farsa que pode virar tragédia.

Dona Violante Miranda (Dercy Gonçalves) é uma cafetina de sucesso que vê uma de suas pupilas morrer com uma filhinha pequena e resolve criar a menina dentro dos mais elevados padrões, em colégio interno europeu e o escambau. Ela volta para casar com um rapaz da alta, as famílias precisam se conhecer e o resto dá para imaginar.

Meio ao estilo Gaiola das Loucas, no final da fita a personagem de Dercy assume quem é, diz que é preciso ter muita coragem para enfrentar a sociedade preconceituosa e coisas do tipo. Mas exceto por essa dignidade, artigo atualmente em falta, a história de certo modo retrata o Brasil de nossos dias.

Agora é até pior, pois é tudo ridiculamente exagerado. Não é brincadeira o que tem por aí de rameira velha e velhaca fingindo se escandalizar com a garota que beijou dois caras na mesma festa. Ou pedindo providências para restaurar uma moral que nunca tivemos e com a qual elas nunca antes se preocuparam.

Pelo contrário, defendiam que nossos baixos padrões no setor diminuíssem ainda mais e tudo lhes fosse permitido. Diziam ser inaceitável qualquer restrição. Hoje, no entanto, cobrem as pelancas lascivas com vestes comportadas e querem punir não só a moça beijoqueira, mas sua família, suas amigas e quem mais julgarem que a influenciou.

A desencaminhada admirava um ator ou político famoso? Devemos puni-lo para que não continue a levar a juventude para o mau caminho. Alguém viajou ao seu lado para participar da mesma festa? Prendam todos os que estavam no ônibus para evitar que essas excursões se repitam.

Se os pais não a castigarem, levem-na para um reformatório. Se a escola não o fizer, retirem seus diretores e nomeiem interventores de total confiança. As meretrizes disfarçadas de moralistas não admitem a mínima contestação, querem evitar todo ato pecaminoso na raiz, antes mesmo dele acontecer.

E o pior do pior é que seu antigos clientes fingem acreditar nesse discurso enquanto continuam a participar de suas orgias depravadas. A hipocrisia atinge níveis jamais imaginados. Pretendem passar por santos os que nunca quiseram mais que transformar o país num bordel.

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