Entre os estupidamente ricos, de várias vezes bilionário para cima, muitos têm tomado providências para sobreviver caso o mundo passe por uma guerra nuclear ou catástrofe similar. Eles até se reúnem de vez em quando para tratar do assunto. E, segundo quem delas já participou, há uma preocupação que domina essas reuniões.
Abrigos muito maiores e mais confortáveis que as antigas casamatas de quintal vendidas para a classe média na época da Guerra Fria? Como estocar alimentos durante um longo período e passar a produzi-los em condições ainda adversas? Não, não. Tudo isso a tecnologia resolve e o dinheiro compra. O que os aflige é uma pergunta:
Como garantir a lealdade da minha equipe de segurança?
Eles precisam de uma. Sem ela, até o cidadão que comprou um abrigo barato para a família pode pegar uma arma e atacar o seu quando ficar sem comida. Sem temer alguma punição, o garçom que foi salvo para servi-lo pode se revelar um mal-agradecido e deixar de atendê-lo depois de algum tempo.
A equipe de segurança é o poder coercitivo do seu mini-estado. Mas, num mundo em que não há mais nada lá fora, quem assegura que o general do seu exército particular continuará a obedecê-lo? O cara resistirá à tentação do poder? Sua esposa, que sempre invejou a do bilionário em silêncio, não fará a cabeça do marido?
E fica pior, pois o problema se estende. Mesmo que você cumule o general de favores e o deixe satisfeito, os coronéis do mini-exército podem se rebelar contra ele. Ou os capitães contra estes. Ou a tropa contra todos. Motim é o nome da coisa, o risco a evitar, o que tira o sono desses pobres multibilionários.
É um problemão sem equivalente adequado no mundo normal. Neste, talvez o que mais se aproxime disso seja a tentativa de instaurar uma ditadura num país em que a maioria da população participativa e a grande maioria das próprias forças de segurança detesta o governo e se considera de oposição.
Você pode ter chegado ao poder por malandragens políticas. Você pode determinar punições isoladas para botar medo nos demais. Você pode comprar a parte canalha da imprensa e fazer campanha para criminalizar a oposição. Você pode criar um clima opressivo e usar os que reagirem com um pouco de violência para justificar a maior que emprega. Você pode se acertar com os generais dos seus exércitos e estes podem mandar punir os revoltosos.
Mas, exceto por uma minoria, os que executariam as punições simpatizam com quem está do outro lado e têm lá amigos e familiares. Você quebrará a cara se tentar usá-los como uma força de ocupação de um país estrangeiro, principalmente se os protestos crescerem. Você gostaria de passar fogo nos que não se submetem. Mas não pode, tem que ir com cuidado, tudo tem que ser bem dosado.
Como no caso dos superbilionários, o motim deve ser evitado. É por isso que dizem que neste momento eles estão acompanhando com atenção a experiência social que acontece em certa parte do mundo. Se lá der tudo certo, pode ser que no futuro pós-hecatombe também dê.
Vamos ver o que eles concluem. E para quem está nesse canto do planeta e reclama de ser obrigado a participar do experimento, nosso recado final: Não seja mal-agradecido como o garçom do exemplo acima, lembre que você pode estar contribuindo para a salvação da humanidade.
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