quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Safadino

Na Idade Média, no tempo das Cruzadas, sabe quem era mais respeitado como exemplo vivo das qualidades que um cavaleiro deveria ter? Ricardo Coração de Leão? O barbudo que foi atravessar o rio agitado com uma armadura pesada e morreu afogado? Nada disso, era Saladino, o príncipe sarraceno.

É normal, o que o pessoal abomina é o traidor, o inimigo pode ser perfeitamente respeitado. A gente torce contra o Messi no Brasil x Argentina, mas admira o talento do cara. Até mesmo a malandragem do Maradona e seu gol de mão é lembrada como prova de sua capacidade.

E por aí se vai. Os que armam grandes assaltos acabam ganhando a simpatia do público. E embora corramos o risco de virar vítimas dela, somos obrigados a reconhecer a inteligência e o charme - basta ver como eles recebem propostas de casamento quando presos - dos grandes psicopatas.

É por isso que chegou o momento de homenagearmos o grande malandro psicopata da política nacional. Não pelas performances teatrais em que o milionário se finge de pobre e conquista os mais ignorantes com suas lágrimas. Não pelo modo como consegue fugir do público de verdade para manter a fantasia de que este o apoia.

Não por nada habitual. Safadino deve receber nossos parabéns por ter conseguido descobrir e explorar um nicho eleitoral que sempre foi desprezado. Refiro-me aos que decidiram entrar no mundo do crime e que, como ele, em geral já puxaram uma cana em algum momento.

Nós, ingênuos, achamos que ele havia dado um tiro no pé quando defendeu "a cervejinha" dos "meninos" que roubam e matam por um celular. Fizemos questão de espalhar aquele vídeo ao máximo. E só o ajudamos com isso.

Ele não perdeu nada, as pessoas decentes que se horrorizaram com sua defesa dos bandidos já não iam votar mesmo nele. Os tais isentões, hipnotizados por seus manipuladores, não iriam acordar com esse tapa na cara dado pela realidade. Aquilo só o fortaleceu junto ao nicho dos criminosos.

E como este é grande! Tínhamos quase um milhão de prisioneiros pouco tempo atrás. Baseado nisso, calcule quantos devem estar soltos num país onde a maioria dos crimes não é resolvida. Só de organizações ao estilo mafioso nós temos mais de 50, a maior delas com estimados 40 mil membros. E nem todos pertencem a uma.

Imagine toda essa gente e seus familiares. São milhões e milhões de votos. E pelo que acontece nas seções eleitorais instaladas em presídios nós sabemos que quase 90% desse eleitorado segue as orientações das centrais criminosas e vota em Safadino e seu partido-quadrilha.

Com fraude das urnas ou não, só entre eles o malandro tirou com folga a diferença de cerca de dois milhões de votos do resultado oficial.

Por isso não adianta reclamar de coisas como soltar bandidos sem critério e do auxílio-presidiário ser maior que o salário mínimo. Ele está apenas agradecendo ao seu eleitorado cativo (às vezes nos dois sentidos) e cuidando de mantê-lo para o futuro. Safadino é um gênio. Do mal, mas é.


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