Um intelectual negro que previu problemas nos quais estamos agora mergulhados deveria ser festejadíssimo pela mídia moderna. Mas, como ele não é politicamente correto, só encontramos quem o elogiasse na Revista Oeste, onde Ana Paula Henkel escreveu o artigo abaixo. Negros, mulheres, hoje estamos com os oprimidos.
O Véu da "Certeza Moral"
No best-seller A Visão dos Ungidos (The Vision of the Anointed), o escritor e economista Thomas Sowell — e um dos maiores pensadores norte-americanos contemporâneos — observa que um grupo de elite, sem ter sido nomeado por ninguém, há alguns anos resolveu declarar sua moralidade superior e seu papel crítico na "correção dos erros da sociedade".
Alguns veem por trás disso um grande e antigo plano comunista, mas talvez o furo seja ainda mais embaixo, na origem das ideias dos socialistas em geral, pois mesmo os que derivaram para o nacional-socialismo se achavam superiores que deveriam corrigir o mundo.
Publicado em 1996, o livro mostra ser incrivelmente relevante hoje, mais de duas décadas após sua publicação. Os atuais ungidos continuam a ter a arrogância de acreditar que é seu papel, com sua visão e ideias superiores, resgatar as vítimas da "opressão" da sociedade, impondo sua vontade coletiva sobre os outros. Como explica Sowell, os ungidos — uma classe composta de membros de instituições, mídia, acadêmicos e políticos progressistas de elite — acreditam piamente que seu papel é resgatar classes vitimizadas e desprivilegiadas e, hoje, proteger o meio ambiente e salvar o planeta terra, mesmo defendendo ideias estapafúrdias e sem nenhum contexto científico.
Seu mecanismo-padrão para corrigir as injustiças é, claro, invariavelmente o Estado. Sowell apresenta uma crítica devastadora da mentalidade por trás das políticas sociais progressistas fracassadas durante três décadas e aponta que o que aconteceu durante esse tempo não é uma série de erros isolados, mas uma consequência lógica de uma visão maculada cujos defeitos levaram a crises na educação, na dinâmica familiar, nos índices de criminalidade e outras patologias sociais. Nesse livro, ele descreve como as elites — os ungidos — substituíram os fatos e o pensamento racional por afirmações retóricas, alterando assim o curso de nossa política social. Um dos pontos mais importantes para os ungidos é protegerem-se do escrutínio sobre fatos e políticas com o véu da "certeza moral" que também os torna altamente resistentes às evidências. Ciência? Fatos? Oh, details. Alexandria Ocasio-Cortez, membro da atual Câmara dos Deputados nos EUA (House of Representatives) e da casta de ungidos, recentemente disse em uma entrevista: "Acho que há muita gente mais preocupada em ser precisa, factual e semanticamente correta do que em ser moralmente correta".
A declaração da representante da extrema esquerda do atual radical Partido Democrata demonstra perfeitamente a tendência dos ungidos de se verem "moralmente em um plano superior". Sowell diz em sua obra que muitas vezes é inútil tentar corrigir aqueles que adotam tal mentalidade, uma vez que "aqueles que discordam da visão predominante dos ungidos são vistos não apenas como estando em erro, mas em pecado". Os ungidos, de acordo com Sowell, devem também se recusar a aceitar que seus oponentes ideológicos compartilhem compaixão por grupos marginalizados — muitos marginalizados propositalmente por eles para que sejam usados apenas como conduíte de suas ideias. Se os ungidos reconhecessem que a compaixão e o cuidado são compartilhados por ambos os lados, essas emoções perderiam sua força política e sua força de ação e coação. O monopólio da compaixão é a plataforma sobre a qual eles colocam sua superioridade moral. O livro de Sowell mostra de maneira não apenas brilhante, mas atual, que os ungidos fazem de tudo para silenciar ou ignorar a razão e as evidências — inclusive científicas — e, em vez disso, concentram-se em acusações de intenções sinistras de seus oponentes. "O que é notável é como poucos argumentos são realmente envolvidos em fatos e quantos substitutos para os argumentos existem", observa Sowell. Talvez o mais preocupante seja que os ungidos tenham infestado os centros de poder mais significativos da sociedade.
A "elite intelectual" é hoje dominada por essas figuras, incluindo a mídia de massa, a política e governos pelo mundo, muitos com grande influência na determinação do curso seguido por toda uma sociedade desde as escolas dos filhos.
Dá para entender por que essa gente detesta a democratização da internet e das redes sociais, por que ela costuma focar seus aspectos jocosos ou deletérios, atribui as críticas que aí recebe a complôs como os dos zaps hipnóticos e tenta silenciá-las de todos os modos. O livro de Sowell de 1996 faz uma impressionante conexão com a real sociedade mundial em 2023. Se prestarmos atenção nos últimos anos, notaremos a óbvia natureza invertida da linguagem moderna. Praticamente tudo é precisamente o oposto do que os ungidos afirmam ser. As pessoas que dizem defender a democracia promovem o autoritarismo disfarçado de bondade, afinal, eles podem sufocar e até matar a democracia com a desculpa de que trabalham para salvar a democracia. Nesta semana, os ricos e poderosos viajaram para a bela cidade de Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial anual. Dezenas e dezenas de jatos particulares pousaram na humilde cidade suíça com o intuito de reunir a nata — os ungidos — da elite global para que possam traçar estratégias para salvar nossas pobres almas de nós mesmos.
Sim, eu disse jatos particulares. Desculpe, não entendi — você disse o quê? Poluição? Emissão de gases? Não, amigos. Vocês não estão entendendo: essa é uma emissão de gases poluentes do bem, para o nosso bem. Gás ruim, de acordo com os ungidos, só os puns das vacas. Isso, sim, precisa acabar! E daí que o Greenpeace publicou um estudo das viagens de jato particular do ano passado para a cúpula anual na cidade suíça de esqui e descobriu emissões de carbono equivalentes a "cerca de 350.000 carros médios"? As vacas precisam de fraldas para estancar esse gás nocivo do pum delas!
Continua amanhã, com mais sobre Davos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário