domingo, 11 de dezembro de 2022

A coisa tá ficando preta

"O imposto cria sua própria despesa", definiu Ronald Reagan com rara precisão. Não falha, você cria um imposto qualquer e logo aparecerão mil coisas que dele dependem e que serão defendidas como importantíssimas e indispensáveis por alguém.

Algo parecido pode ser dito sobre as instâncias de poder. Pode ser que os primeiros ocupantes da nova secretária só queiram fugir da encrenca (trabalho) e aproveitar as vantagens da boquinha, mas cedo ou tarde ela cairá nas mãos de quem tentará reger o mundo a partir daquela posição.

É o que acontece com o TSE, uma invenção brasileira que devia se dedicar a pouco mais que aparecer rapidamente a cada dois anos para distribuir as urnas e contar os votos da eleição, mas foi se transformando até se tornar o atual monstrengo ditatorial que não tem prazos nem limites para atuar.

Ninguém sabia, mas o nosso TSE criou, em abril deste ano, uma Comissão de Igualdade Racial. E, recentemente, durante o encontro Democracia e Consciência (!!), a tal comissão divulgou um manual que recomenda "banir do vocabulário brasileiro", palavras e expressões que seriam "preconceituosas e racistas".

E o pior talvez não seja nem a tentativa de eternizar um poder que deveria ser transitório ou controlar o que as pessoas podem ou não dizer (uma verdadeira tara dos atuais dirigentes dessa porcaria), mas a pobreza da argumentação utilizada pelos censores.

"Escravo" é uma das candidatas à exclusão. Como você vai doravante se referir aos que, desde a mais remota antiguidade, eram capturados e obrigados a servir seus captores? Não sei e não creio que isso incomode as cavalgaduras que sugeriram a mudança, para quem escravidão é sempre de negros africanos por brancos europeus.

Imagine os livros de história sendo reescritos para informar que Spartacus comandou uma revolta das "pessoas em situação de trabalho compulsório não remunerado" ou coisa que o valha. Ou, como eles fizeram agora na eleição, a internet sendo vasculhada para direcionar os que usam o termo proscrito ao site de esclarecimento do TSE.

Ops, falha nossa, "esclarecer" também está na lista (que não é negra, evidentemente). E não adianta você explicar aos idiotas que tornar claro não tem nada a ver com passar por um processo semelhante ao do Michael Jackson, mas com jogar luz sobre algo para que se possa entendê-lo melhor.

Por enquanto a comissão "recomenda banir". Contudo, no atual andar da carruagem, quanto tempo levará para o TSE esquecer o "recomenda" e não apenas determinar o banimento, mas utilizar a necessidade de acompanhar o cumprimento dessa norma como motivo para estender em definitivo seu poder para os períodos em que não há eleição?

Tempos sombrios se aproximam, a situação está ficando cada vez mais negra.



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