segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Independência interior

Há cem anos o Brasil comemorava o centenário de sua existência como nação independente. Preparadas com dois anos de antecedência, as festividades se estenderam por meses e tiveram um de seus pontos altos numa exposição em que outros catorze países montaram pavilhões que atraíram mais de três milhões de visitantes (10% da população daquela época).

Em sua cerimônia de abertura, prestigiada pela presença de vinte chefes de estado, viu-se um feito histórico. Ou melhor, ouviu-se, pois ali aconteceu a primeira transmissão de rádio em terras brasileiras. Na programação, os inevitáveis discursos e um pouco de música: a ópera "Il Guarany", de Carlos Gomes.

É claro que o país tinha problemas que contrastavam com essa imagem de modernidade e muita gente achou que haviam gastado demais. Mas se você pensar assim não vai comemorar nem o primeiro aniversário de seu filho, quanto mais o primeiro centenário de sua nação. Nas revistas e jornais, a festa predominou.

Que diferença para o segundo centenário! Milhões de brasileiros já desfraldam bandeiras nacionais e se dispõem sair às ruas vestindo suas cores, mas um tom sorumbático domina uma imprensa repleta de pessoas que confessam odiá-las (a bandeira, as cores e os que as envergam) e tentam até criminalizar esses festejos.

Parece estranho. No entanto, talvez não exista nenhuma novidade. A independência é de certo modo um processo contínuo. E nós sempre estamos lutando contra poderosos grupos internos que se consideram donos do país e detestam a parte do seu povo que preza a liberdade e não se submete a seus ditames.

Foi assim em 1822. Nós fazíamos parte do Reino Unido, tínhamos um status legal idêntico ao de Portugal. Isso em teoria, porque desde que o rei retornou a Lisboa intensificaram-se as pressões das Cortes para que voltássemos a ser na prática uma colônia. A independência foi uma separação que afastou essa ameaça.

Cem anos mais tarde o maior problema era outro. Em 1922 foi fundado o Partido Comunista Brasileiro, expressão oficial de um movimento internacional que procurava submeter o mundo inteiro a uma ferrenha ditadura. Tempos depois os comunistas brasileiros tentaram dar um golpe e fracassaram, mas, infiltrando-se na sociedade sob diversos disfarces, permaneceram fieis a seus ideais totalitários.

Hoje temos uma estranha mescla de tudo isso. O desvio autoritário das Cortes que deveriam cuidar de todos por igual foi sucedido pela escandalosa parcialidade da Suprema Corte. E os descendentes dos antigos comunistas não se assumem como tal, mas a sua preferência pelo vermelho e seu ódio pelo verde e amarelo os trai.

Na liderança desse bloco do mal, apoiado pela imprensa furiosa por ideologia ou falta de verbas públicas, um ex-presidiário que encarna o que de mais torpe a política desse país já produziu aposta que a ignorância de amplas parcelas da população poderá dar a seu grupo um poder que nunca teve antes.

Libertar o Brasil dessa gente é a luta pela independência atual.

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