Depois de errarem praticamente tudo nos últimos anos, o que acontecerá às atuais cartomantes se errarem também a previsão suprema, a que se agarram como náufragos ao tronco de árvore? Uma resposta foi oferecida no último final de semana, quando eles lançaram a desculpa do medo.
Com medo de sair de casa no dia da eleição, os eleitores do grande corrupto poderiam se abster a ponto de reverter o resultado das pesquisas que lhe asseguram a vitória. Mas estas estariam duplamente certas, porque não podiam prever decisões pessoais de última hora e porque revelaram a existência e a enormidade do receio.
Além desse truque na manga, eles podem ter outros. Podem, por exemplo, estar acelerando agora para pisar um pouco no freio no final e dizer (no caso das urnas não cumprirem sua parte no acordo) que essa "tendência de reversão" se intensificou no último instante.
Não dá para adivinhar seus próximos passos. Mas dá para dizer que eles não sairão incólumes se errarem feio. Os militantes de redação dirão que só estavam comentando as pesquisas e os institutos que as realizam terão que segurar a bomba sozinhas, principalmente os dois mais incensados.
Um deles, o Ipec, é formado por pessoas que ficaram desempregadas quando a Kantar terminou de absorver o Ibope. Seu valor para o atual esquema é o nome do antigo empregador, pois a militância de redação lhe dá uma importância que não tem ao tratá-lo como "ex-Ibope".
Ninguém sabe quanto essa gente recebeu (por dentro e por fora) para cumprir o atual papel, mas a eleição lhes caiu do céu, pois nem um site tinham antes dela e não parecem ter outros clientes para apresentar.
Se saírem chamuscados, enfiaram mais um bom dinheiro no bolso e podem se dedicar a outros negócios ou, a depender da idade, se aposentar. Se continuarem existindo creio que será no mesmo estilo do Vox Populi, que, como a Marina Silva, some do radar para reaparecer rapidamente a cada nova eleição.
O mais atingido seria o badalado Datafolha. Ele não tem problemas financeiros porque a fortuna da família sustenta todo o grupo deficitário, mas sua credibilidade iria definitivamente para o ralo em caso de outro desastre ao estilo Manoela prefeita.
Como o grupo vive fechado em si mesmo, poderia fazer de conta que nada aconteceu e dedicar colunas sem fim a "explicar" porque o medo alterou os resultados ou coisa parecida. Mas creio que eles também poderiam fechá-lo ou, mais provavelmente, reduzir suas atividades.
Isso já aconteceu antes. O Datafolha estimava o público de eventos, sempre aumentando os de esquerda e diminuindo os demais. Um dia trouxeram uma tecnologia que, através dos sinais de cada celular, media o público com precisão pelo critério que eles diziam adotar, de tempo de permanência. O resultado foi tão desmoralizante para o instituto que ele nunca mais estimou público algum.
Agora não se sabe o que acontecerá. O que se sabe é que basta usar a "tecnologia" da observação e dos raciocínios simples para saber que seus números são falsos. Se as urnas inauditáveis coincidirem com eles, os institutos terão cumprido sua missão e o problema será o que fazer em relação a elas.
Não são apenas as cartomantes. Está chegando a hora de todos colocarem suas cartas na mesa.
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