quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Agora me convenceu

Não pense que você sabe o que é bom para você. Quem sabe é Lúcia Guimarães, colunista do Estadão e do Globo que vive em Nova York desde 1985, ex-correspondente de Globo, Cultura e GNT. É com esse típico currículo que ela explica, na Foice, "Por que votar no Lula interessa à direita". "No", estilo Emir.

A direita deve votar em Lula por interesse próprio. O centro também, seguindo o exemplo da deputada Tabata Amaral (PSB-SP), na contramão dos líderes do Congresso, que querem liquidar o Brasil na xepa da feira.

Pelo jeito não é só a direita, é todo mundo. Argumento como quem critica Lula desde 2005 e lamenta que ele seja parcialmente responsável pela escassez, no partido, de líderes sem o carisma negativo dos herdeiros que inventou. Como carioca, sinto asco do bolsonarismo escancarado do PT do Rio, que rompeu o acordo feito pelo ex-presidente com Marcelo Freixo (PSB), num sinal de compromisso em manter o poder das milícias no estado — não, como alegam, de barrar a candidatura ao Senado de Alessandro Molon.

Viram, ela é crítica do larápio desde 2005, uma profissional isenta. E a mestra está chateada com o "bolsonarismo" de parte do partido-quadrilha, coisa que você, ignorantão que não sabe escolher, nem imaginava existir. Quando me refiro ao interesse da direita, não falo do belzebu em pânico diante da chance real de ser preso após a derrota ou do seu entorno, unido na ganância, no obsceno fervor teocrático e no ódio ao Brasil.

Ódio ao Brasil deve ser aquele pessoal que chuta bandeira, sei lá. Mas fale mais do "obsceno fervor teocrático". Falo da direita que acredita numa política econômica liberal sem pastores evangélicos ladrões, milicos parasitas sangrando o tesouro à custa do suor dos trabalhadores e empresários cujo comportamento faz os bicheiros cariocas da minha infância parecerem líderes cívicos.

Ah, são os evanjegues. Tem que esculhambar essa malta mesmo Lucinha, assim eles votam em quem você mandar. E os milicos então, devem ter se escondido de vergonha depois de ler o que você escreveu. Em resumo, falo do que sobrou do terreno político anti-Lula que é pró-Brasil. Escrevo dos EUA, onde acompanho, há décadas, a involução da direita americana que resultou em Donald Trump. Ele não foi um acidente de percurso, mas um carro alegórico medonho arrematando um desfile na praça da Apoteose do Rio. Quando ficou evidente que Trump era uma ameaça existencial para os conservadores moderados, muitos votaram em Joe Biden.

Você ficou muito tempo fora, Lucinha. Esse terreno político anti-molusco que vota no molusco aqui tem nomes mais simples: isentões, tucanos, coisas assim. Por que o Brasil não esquerdista e não aliado ao niilismo devasso apoiado pelo centrão deve votar em Lula? Porque quer abrir empresas, contratar mão de obra preparada, apoiar pesquisa científica, estudar e ganhar muito dinheiro no mercado financeiro contando com instituições e leis, sem ficar à mercê da tirania de três Poderes cada vez mais aparelhados por quadrilhas.

Verdade, o absurdo aparelhamento do STF bolsonarista é um exemplo disso. Quanto à economia, é só nos comparar com os outros. Quem dera tivéssemos presidente como eles. Sim, o caudilho do PT facilitou corrupção em larga escala, mas não tentou demolir o Estado de Direito. E não ofereceu resistência ilegal a passar 580 dias numa cela por ordem do juiz que o prendeu sob encomenda para ajudar a eleger o monstro seu aliado — o mesmo que hoje balbucia delírios sobre reagir a tiros quando a Polícia Federal bater à porta.

Não, imagina. Nunca quis censurar a imprensa. Nunca fez o PNDH5, nunca se aliou às FARC. Mas ele tentou resistir sim, Lucinha, é que não conseguiu juntar mais que a meia dúzia de sempre na frente do sindicato e teve que dar a famosa corridinha para o camburão. A este país que rejeita o extremismo interessa, por instinto de sobrevivência, não continuar apostando que 33 milhões de brasileiros acham normal passar fome para impedir que gays possam se casar.

Mas fome com seiscentão? Não é muito, mas dá. Só se o cara joga o dinheiro fora e fica faminto para ter o gosto do gay não casar. A adesão de mais de 700 mil à carta em defesa do Estado democrático de Direito é um sinal auspicioso. A direita que queria, a todo custo, evitar a volta de Lula sabe que, para competir para legislar e governar, precisa de um país — não do esqueleto que vão nos deixar se continuar no poder o desocupado vitalício que, nos anos 1980, planejou colocar bombas em quartéis para conseguir aumento de salário.

E do manifesto em resposta à cartinha dos banqueiros a jornalista isenta não vai falar? Parece que não, deve ser lei na Foice. Os crassos jecas da Faria Lima, os incendiários do agronegócio e os invertebrados da avenida Paulista podem ter se fartado de comer mingau pela beirada do fascismo. Talvez agora tenham começado a entender o preço de negar que a agenda que apoiaram não é conservadora ou cristã, é terrorista e demolidora.

Depois de envergonhar os evanjegues e os milicos mandriões, aqui Lucinha põe o dedo na cara dos jecas da Faria Lima, dos incendiários do agro e dos invertebrados da Paulista. Essa mulher é um fenômeno, vai converter todo mundo. Se quiserem continuar decolando para Paris e manter o privilégio de tirar férias do martírio brasileiro, precisam de um país para onde possam voltar.

Não entendi muito bem, acho que ela quis dizer que agora o pobre vai poder viajar de avião para Paris.

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