sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Beijo do Gordo

Jô Soares se foi, que Deus o tenha. Independente de suas opiniões sobre o Brasil atual, que imagino sem ter certeza, vai-se com ele mais um elo público com aquele país do passado, do pai que hoje tentariam proibir por se preconceituoso além de cego, das mulheres sem silicone que seriam atacadas por serem sempre desejadas pelos homens.

Mas essa, anterior a de apresentador evocada pelo título, já foi a sua segunda encarnação. Na primeira, ainda em preto e branco, ele era o divertido mordomo da Família Trapo (de que era coautor) e, antes da telinha doméstica, o jovem gorducho que aparecia de repente na chanchada do Oscarito e do Grande Otelo.

Embora não sendo mais que um aspecto dele, esta última foi, mais que todas, a cara de um país com personalidade diferenciada que acabou depois pegando alguns desvios estranhos. Aquilo se foi, tudo se vai, a vida é um breve passeio por uma terra estranha. O Gordo encerrou o seu. Vai pra casa, Padilha!

Sala secreta

Em rápidas leituras no início, participando um pouco no final, acompanhei a discussão de ontem sobre as urnas butanesas. Depois de muitas delongas, chegou-se ao ponto decisivo e viu-se, mais uma vez, que toda a defesa da segurança do voto sem impressão se prende à pretensa confiabilidade de quem teria observado em algum grau o sistema, de empresas de auditoria a membros da OAB (!!).

Nada disso impede a fraude que pode ser cometida pelo pessoal "de dentro", em inúmeros pontos e de várias maneiras. Nem se discute. Mas acho que vale a pena dizer algo sobre a outra parte, aquela em que não existiria possibilidade de alterar os votos na sala secreta porque o total ali obtido deve coincidir com o somatório dos boletins emitidos pelas urnas ao final da eleição.

É verdade, mas...

Quem tira cópias de todos os BUs e os conta? Cópias deles estarão na internet, dizem. Mas se parte do que está lá for alterado repentinamente para coincidir com um total diferente, quem perceberá. Se alguém perceber, como poderá reclamar? A contagem dos BUs não faz parte da apuração oficial, quem garante que em caso de divergência os senhores das urnas não decretem que os que reclamam fraudaram os boletins?

Há uma série de problemas a esse respeito e nunca devemos esquecer que os BUs são apenas uma maneira de comprovar possíveis fraudes eletrônicas, mas não as evitam por si só. E mesmo que evitassem eu creio que ainda deveríamos falar da sala secreta, internet e coisas do tipo.

Dois motivos

O bonitinho seria admitir que o BU permite descobrir qualquer fraude na contagem. Mas outro lado também deveria admitir que é possível inverter votos na urna e NÃO FAZ ISSO, invocando imbecilidades como a "fiscalização" da OAB ou pedindo provas (que sabe impossíveis de obter) sobre fraudes do passado.

O problema é que esse tipo de argumentação desonesta funciona com parte do povo e quem joga limpo contra um adversário sujo é um idiota. Portanto, para disputar essa mesma parcela da população, é válido falar em meios de fraude que ele entende mais facilmente, como hacker da transmissão via internet e sala secreta.

O outro motivo é que, quando apertados sobre a tese da sala secreta, eles acabam cedo ou tarde se escudando no BU. São obrigados a isso porque não há outra garantia real. E o Boletim de Urna é um papel, um COMPROVANTE FÍSICO.

Ou seja, eles acabam admitindo que a segurança de toda a parafernália eletrônica só pode ser comprovada se houver um comprovante impresso no início do processo de transmissão e contagem. É pelo mesmo motivo que se necessita do VOTO IMPRESSO no início de tudo.


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