terça-feira, 26 de julho de 2022

Gente que usa amarelo

Foi há dois anos, em julho de 2020, que, acreditando em suas próprias mentiras, a Foice de SP decidiu que o povo brasileiro estava louco para derrubar o presidente e, numa campanha que incluía até anúncios na TV, convocou-o a sair às ruas de amarelo (cor que o odiado teria "sequestrado" e os foicistas pretendiam "recuperar").

Como podia prever qualquer pessoa que vive no mundo real, o Use Amarelo foi uma vergonha de nível emebelístico, da qual nunca mais se falou por lá. Mas isso não impediu o grupo UOL de ouvir gente que continua pensando daquele modo.

Um destes é o filósofo Marcos Nobre, que demonstrou realismo ao declarar que aquilo que chama de golpe não seria feito de tanques nas ruas e prisão de opositores, mas de uma baderna que exigiria um freio de arrumação pontual, embora militar. Porém, antes de elogiar o sujeito, veja como ele quer impedir o "golpe":

Ou 75% da população brasileira fica atrás de uma faixa que diz 'nós não aceitamos o golpe', ou ele tem chance (...) Do ponto de vista da sociedade, pessoas sem filiação partidária, sem pretensão eleitoral, que têm grande respeitabilidade e representem outras social, não politicamente, precisam fazer um movimento que eu chamaria de 'Brasil contra o golpe'. Elas precisam dizer: 'nós estaremos aqui a cada vez que tiver um movimento golpista e não vamos aceitar'.

A faixa do "Brasil contra o golpe" seria também amarela? Quem seriam essas pessoas com grande respeitabilidade? Algum cantor? Os bispos da CNBB? E os 75% da população? Creio que ele imagina, ao estilo Kotscho, uma espécie de reedição do "Diretas Já". Mas como pode fantasiar que seu desejo é o da maioria da nação?

Em nichos como a faculdade e o jornal, o filósofo deve encontrar uma imensa maioria de antis (petistas e similares). Mas fora dessas pequenas bolhas acontece o contrário. Será que o cara não visita empresas, não lê o zap do condomínio ou da igreja, não participa de grandes reuniões familiares?

Nobre, meu filho, vocês podem forjar números nas pesquisas e até na programação da urna (o verdadeiro golpe a combater), mas gente de carne e osso para tomar as ruas é só o outro lado que tem. Preste atenção ao que acontece fora do seu micromundo que você logo vai reconhecer esse pessoal. É fácil, eles usam amarelo.

O rapto do Sabino

Depois de ver a convenção do Bolsonaro eu ia escrever sobre o sebastianismo, mas o anta Mário Sabino raptou minha pauta e escreveu primeiro. Eu diria que tanto o Bozo como o larápio descondenado são "sebastiões" e ele disse. Diria que Getúlio também foi e ele também disse.

Eu ainda diria que Juscelino foi um semi-sebastião e observaria que o mito (o sebastianista, bem entendido) acabou pegando mais no Brasil que em Portugal, o que Sabino não fez. Mas a grande ausência do seu texto é outra.

Os citados estão ou estavam por aí e Dom Sebastião nunca dá o ar de sua graça, o tempo passa e o rei perfeito não aparece para instalar aquele governo impoluto e maravilhoso. O sebastianista raiz é o que não se abala com isso e continua a esperar, o crente fiel da terceira via.

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