domingo, 24 de julho de 2022

Bruma descontrolada

Bem que a Elaine Bruma podia ser uma louca ao estilo da moça aí de cima, não aquele poço sem fundo de fanatismo repetitivo sem um pingo de graciosidade. Veja, por exemplo, o que ela andou escrevendo no espacinho que agora o El País internacional lhe dá de vez em quando.

A ultradireita global e o controle dos corpos

A derrubada do direito ao aborto e a redução do poder da Agência de Proteção Ambiental pela Suprema Corte dos Estados Unidos apontam para o mesmo objetivo: o controle dos corpos. Não quaisquer corpos, porém. No caso do aborto, o das mulheres. No caso do clima, os mais pobres, em todo o planeta os pretos e os indígenas, os mais afetados pelo aquecimento global – e, principalmente, o corpo-planeta.

Tudo sob controle, só a Bruma está descontrolada. E o único corpo que não a preocupa é o mais frágil e indefeso, da criança ainda no ventre da mãe.

A ofensiva dos republicanos que hoje dominam o tribunal é pelo controle dos corpos insurgentes: tanto dos corpos das protagonistas do movimento feminista Me Too quanto daqueles que derrubaram estátuas de heróis americanos brancos, escravocratas e colonialistas – e da natureza que se insurge em transfiguração climática após o ataque sistemático da modernidade movida a combustíveis fósseis.

Esclareçamos que, nesses casos, o controle de corpos consiste em colocar os dos arruaceiros na cadeia. As decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos, maior emissor de carbono junto com a China, sinalizam que a troca de presidente está longe de garantir a recuperação de direitos e o avanço em temas cruciais como o aquecimento global.

Mas quando é que esses temas "avançaram" na prática? Isso é só moeda política, ninguém acredita de verdade na bobajada das Gretas da vida. E a China não trocou de presidente, Elaine, lá não é a "ultradireita" que causa os problemas por você apontados.

A tentativa de golpe de Donald Trump, com a invasão do Capitólio, deu um exemplo para a extrema direita do que fazer quando perdem as eleições. O primeiro ano e meio do governo do democrata (bem moderado) Joe Biden apontam que não basta ganhar as eleições e fazer o resultado das urnas valer. O que levou a extrema-direita ao poder continua ativo mesmo com um presidente democrata, e corroendo a democracia tanto por dentro das instituições quanto ao insuflar o desamparo das camadas populares com a acelerada deterioração de uma vida já sem promessas de futuro.

Mesmo desconsiderando que a eleição foi repleta de fraudes, a Elaine achou que o pessoal ia deixar de pensar como pensa só porque o Trump perdeu? Bem, a cidadã acredita que pensar diferente dela é "corroer a democracia", o que se pode dizer?

Países com instituições mais frágeis, como o Brasil, terão muito mais dificuldades para enfrentar os tempos pós-Bolsonaro, caso consigam evitar a reeleição e o golpe em curso.

Pelo menos ela reconhece que a força social ora representada por Bolsonaro não desapareceria com uma derrota eleitoral deste. Tem gente que se considera muito esperta que ainda não percebeu isso.

Ninguém deixou mais explícita a relação entre o corpo das mulheres e o corpo da floresta que Jair Bolsonaro, ao dizer em seu primeiro ano de governo que a Amazônia era "a virgem que todo tarado de fora quer". Tanto o corpo feminino quanto a natureza são corpos a serem objetificados, espoliados e esvaziados. É esta a lógica colonial e patriarcal que a extrema-direita luta para manter e que levou o planeta à catástrofe climática.

Hahaha, essa frase o Bozo deve ter feito de propósito, só de sacanagem. E Elaine volta à sua pregação: não basta emitir menos carbono, é preciso também acabar com o patriarcado, o pensamento conservador, a religião... Assim fica verdadeiramente difícil salvar o planeta.

Nas últimas semanas, uma juíza impediu uma menina de 11 anos de fazer um aborto por gravidez resultante de estupro, contrariando a lei, e um jornalista expôs publicamente uma atriz que deu o bebê resultante de violação para adoção. Esta é a pré-campanha das bases – e com esta o país terá que lidar para muito além das eleições.

Na história da atriz só existe o velho exagero em busca de exposição, talvez dos dois lados. E se houve estupro, o garoto de 13 anos que namorava a menina também foi estuprado. Elaine conta as coisas pela metade e aborda casos isolados, totalmente fora da curva.

Não por acaso há um terceiro retrocesso protagonizado pela Suprema Corte dos Estados Unidos no mesmo período, ao autorizar civis a portar arma de fogo em público. Não por acaso o Brasil teve um aumento no porte de armas de 473% durante o governo Bolsonaro. Se os retrocessos legais não são suficientes para controlar os corpos insurgentes, as armas servem para destruí-los. É isso que a execução de defensores da natureza tem mostrado na Amazônia dia após dia.

Então as mulheres, os pretos e os indígenas já sabem: se não se comportarem, vão levar chumbo dos homens brancos que querem aquecer o planeta até torná-lo inabitável. Parece roteiro de alguma distopia. A Elaine, que se apresenta como jornalista, devia encaixar a China nessa história e se assumir como escritora de ficção. Imaginação não lhe falta.

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