Quem defende honestamente uma posição pode ir direto ao ponto sem subterfúgios, mas o argumentador desonesto se entrega ao tentar fugir do tema principal, discorrendo sobre aspectos secundários e apelando para dados imprecisos e raciocínios construídos para iludir os incautos.
Um destes últimos é a história de que as urnas eletrônicas não podem ser fraudadas porque nunca houve provas de que o foram. Ora, pode não haver provas apenas porque é impossível colhê-las. E a eventual inexistência de fraudes anteriores não impede que uma seja cometida agora. Mas como o argumento ilude os intelectualmente menos favorecidos, os desonestos o repetem o quanto podem.
Hoje, no Estadão, Pedro Doria diz que "várias cidades francesas" utilizam sistemas digitais e "vários estados americanos, todos republicanos, fazem eleição digital sem voto impresso, parcial ou integralmente."
Integralmente, Pedrão? Você devia ter dito o nome do estado para a gente conferir. O que existe são raras exceções admitidas em países em que se aceita até voto pelo correio sem uma correta identificação, tanta é a confiança (embora ultimamente abalada) na honestidade do cidadão.
Direto, sem subterfúgios: como o Brasil, meu caro, só o Butão.
De resto, Pedro se socorre na ladainha acima referida. Fala que a urna não está ligada a Internet, que é difícil um hacker acessá-la... Tudo para fugir do principal, que é o risco de que aqueles que dominam o sistema o fraudem. Mais ou menos como fizeram os dignos diretores e técnicos da Volkswagen no exemplo dado ontem.
A volta do filho pródigo?
São três tuítes, três pequenos textos em sequência. Seu autor é Sérgio Moro, que parece estar acordando do pesadelo em que se jogou ao tentar equiparar o presidente Bolsonaro ao criminoso irregularmente libertado. Ei-los:
"Além da catástrofe da possível eleição do Lula, temos que estar atentos ao que viria junto com ele. Sinceramente, o Brasil não merece isso."
"Leio editorial da FSP contra minha pré-candidatura (...) Coerente, para a Folha de São Paulo é Lula livre e a corrupção a gente vê depois." "Inadmissível tratar de forma jocosa ou figurativa a morte de uma pessoa, ainda mais de um Presidente da República. Esse tipo de comportamento acirra os ânimos e não contribui em nada para o debate político."
A criação sai do Criador, mas nunca chegaria a existir caso eles pudessem se reunir desde o primeiro instante. Para evitar o curto-circuito inicial, uma resistência afasta um polo do outro. Quanto maior ela se torna, mais difícil e meritório o retorno. Quanto mais o filho se afasta, maior a festa para recebê-lo de volta.
A parábola vale em todos o sentidos, para os grandes e pequenos assuntos. No caso em questão estamos falando apenas de uma possibilidade. Mas festejemos também o retorno dos que por vaidade, ignorância ou o que seja se afastaram do caminho correto em algum momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário