segunda-feira, 6 de junho de 2022

Nove, sete, cinco

Todos que têm idade suficiente devem lembrar do sapato 752 da Vulcabrás e da sua famosa campanha publicitária estrelada por figuras "marcantes" como Leonel Brizola, Nuno Leal Maia e Joãozinho Trinta. Até a Hebe Camargo apareceu. Mas acho que ninguém chamou mais atenção do que Paulo Maluf.

"Numa campanha eleitoral, dizem que a gente gasta muita sola de sapato", afirmava o político que foi imposto a primeira vez pelo regime militar e depois se tornou sinônimo de corrupção enquanto concorria a cada nova eleição. Com sua voz inconfundível, ele repetia pausadamente o nome do produto: "sete, cinco, dois".

Lembrei do número ao ver outro: nove, sete, cinco. Preocupados em não causar problemas para quem atualmente defendem, os responsáveis pela grande imprensa não deram muito destaque à notícia, que, no entanto, deve envolver alguma espécie de recorde mundial.

975 milhões de reais. É este o valor que Renato Duque, homem de confiança de José Dirceu, escolhido pelo PT para dirigir a roubalheira organizada da Petrobrás, foi condenado pelo TCU a devolver para os cofres públicos. Quase um bilhão! Na mão de uma pessoa física, de um dos operadores do sistema lulopetista.

E não pense que ele não tem esse dinheiro. Se algumas das empreiteiras envolvidas no assalto devolveram bilhões, Pedro Barusco, um mero gerente, já devolveu mais de 100 milhões. Ninguém é de ferro, os bons soldados do partido também acabam levando um troquinho para casa.

Segundo aqueles que o bolivarianismo petista instalou nas altas esferas do Judiciário para se eternizar no poder, as provas não devem ser consideradas porque foram enviadas para o CEP errado e eles só descobriram isso depois. Mas, nas instâncias técnicas, o roubo é confirmado cada vez que parte do dinheiro roubado é devolvido.

Quanto terá sido furtado no total? Para alguém bem informado como o Obama mencionar o caso em suas memórias, deve ter sido algo fantástico. Pobre Maluf, foi ultrapassado de longe. E ele ao menos fazia, isso é verdade. O petismo desfez, pegou nossa melhor situação internacional e entregou a pior recessão.

Outra diferença entre eles está na frase de abertura do comercial. Maluf gastava mesmo sola de sapato, nunca fugiu, nunca se escondeu. Comia pastel na feira e tomava café no boteco a cada eleição. Sua popularidade - ele sempre liderava as pesquisas no primeiro turno - era visível e facilmente comprovada.

O caso do popular que foge do povo é inédito. Exceto pelos muito imbecis, todo mundo nota isso, virou um assunto normal. Mas talvez uma das respostas para o fenômeno seja exatamente o sapato. Com o 752 você podia encarar qualquer terreno, de salto alto só dá para correr do jatinho par aa saída mais próxima.

Outra possível explicação é que naquele tempo o voto era contado e podia ser recontado, não era possível enganar. Hoje isso depende de caras que fecham os olhos para os bilhões devolvidos e dizem repentinamente ter percebido que o endereço estava errado.


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