Nada indica que Elon Musk esteja pensando em impedir que a plataforma seja usada para fazer perguntas idiotas e repetitivas, mas Elaine Bruma está muito preocupada com a recente aquisição do Twitter. Por quê? Deixemos que ela explique em seu último artigo no El País regional.
Elon Musk rules
A frase do título se destacava num cartaz da manifestação contra o STF que partidários de Jair Bolsonaro promoveram recentemente em São Paulo. Escrita em inglês, ela fazia referência à compra de Twitter pelo homem mais rico do mundo e representava o êxtase da extrema direita mundial com a troca de comando.
Para a Elaine e sua turma, já sabemos, extrema direita é todo mundo que não concorda com eles.
Ao anunciar a transação, Musk pronunciou a palavra mágica: "liberdade de expressão". Conceito querido da democracia, pervertido ao ser usado para legitimar o discurso de ódio contra minorias, instituições e indivíduos. Foi convertido em grito de guerra de Bolsonaro e suas hostes de fanáticos.
Conceito da democracia, mas os democratas estão contra ele e os extremistas o defendem!? Ah, é para pervertê-lo e usá-lo para discursos (que Elaine considera) de ódio contra minorias, instituições e indivíduos. Não, evidentemente, o que ela faz contra as "hostes de fanáticos", a Presidência da República e Bolsonaro. "O humor de Brasil mudou", comemorou Bolsonaro ao saber da aquisição do seu multimilionário favorito. Está justificado: Bolsonaro utiliza a "liberdade de expressão" nas redes como uma arma de destruição da democracia. Em seu nome, prepara um golpe de estado à luz do dia, caso não se reeleja em outubro.
Você pode achar curioso que a Elaine nunca tenha visto nada demais no discurso que pedia um golpe para retirar Bolsonaro do poder no dia seguinte à sua eleição. Mas é que ela não é extremista de direita. É uma democrata que defende a Amazônia. Ela pode, outros não.
Desde que o Twitter expulsou Trump, Bolsonaro teme que lhe suceda o mesmo. Com Musk, crê que está a salvo. Pode preparar seu golpe em nome da "liberdade de expressão".
Para não deixar dúvidas, a democrata Elaine defende a censura a Trump. A minoria de que ela não gosta pode ser perseguida sem problemas. Eles não contam, devem ser extirpados (por enquanto virtualmente). Já vi alguém falando coisas assim em alguém lugar. Hoje, o Brasil é o laboratório onde o protótipo de Trump, ao promover a invasão do Capitólio, está se radicalizando. Cada vez é maior temor de que, à diferença de Trump, Bolsonaro tenha êxito. Em guerra contra o STF, a instituição que não conseguiu esvaziar, o presidente brasileiro cruzou outro limite ao indultar um deputado federal condenado por defender a violência contra os magistrados da corte, entre outros delitos contra a democracia. Em nome da "liberdade de expressão", Bolsonaro anulou a decisão da máxima instância judicial para demostrar que pode fazê-lo.
Elaine omite que a pena foi absurda em função do alegado delito. E também esquece das prisões imotivadas, os inquéritos ilegais e até os perseguidos que tiveram que se exilar por delitos de opinião. O seu STF é uma legião de ingênuos anjos democratas.
As eleições serão em outubro, porém Bolsonaro já anunciou o resultado: vencerá. Se as urnas respaldarem sua profecia, o processo será legítimo. Se não, será fraudulento. Para garantir a vitória, seja qual for o resultado, Bolsonaro faz duas campanhas: a que busca a reeleição mediante o voto, investindo dinheiro público em programas que garantem apoio popular, e a que busca o apoio à sua investidura como ditador caso as urnas o traiam, o cenário mais provável hoje.
Havia um modo simples, usado em todo mundo civilizado, de evitar qualquer dúvida sobre o processo eleitoral. Ele estava até previsto na legislação. Quanto ao que as urnas vão mostrar, nós já sabemos, por 2018 e outras eleições, que as pesquisas têm uma certa implicância com Bolsonaro. Sabemos também que ele vai ao Maracanã lotado e o campeão das pesquisas tem medo de tomar um cafezinho na esquina.
Busca o apoio de sua base, que armou, e das Forças (já) Armadas. Destroçou a credibilidade do (excelente) sistema de votação do Brasil, disseminando mentiras sistematicamente, para deixar o cenário preparado em caso de derrota.
O sistema é excelente, mas teve sua credibilidade destroçada por quem nem pode falar o que quer sem ser censurado. Não parece um pouco contraditório? Por que os defensores do bem não consegue provar que estão dizendo a verdade? Será que imaginam que basta acusar Bolsonaro de mentiroso? O Twitter é uma das linhas de frente deste golpe. Se Elon Musk transformará a plataforma no que os neofascistas esperam, saberemos em breve. Tempos estranhos em que o futuro de um país e da Amazônia pode se ver afetado pelo elástico conceito de liberdade de expressão de um único homem e seus apetites pessoais.
Mas é só o Musk que não concorda com o que acontece nessas plataformas? E se o golpe está armado com o Twitter atual, que grande diferença fará a mudança de comando? A Elaine dá voltas e voltas, mas no fundo só quer defender a censura a quem não pensa como ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário