Mestre Josias, quem diria, de repente passou a ficar mais parecido com o restante do UOL. Foi depois de um episódio, já nem lembro qual, em que ele previu que o atual governo federal se daria mal e quebrou a cara. De lá para cá seus artigos foram ficando com o jeitão do comentado abaixo.
Campanhas presidenciais tornaram-se no Brasil uma disputa do Bem contra o Mal. Em 2018, o demônio era o petismo. Hoje, o rabo e os chifres de Bolsonaro chamam mais atenção. Os opositores se animam. "Oba! Podemos ser radicalmente contra!". Nada mais fácil do que se contrapor ao Mal com rosto.
Josias devia ler mais o próprio jornal. Foi em 2018 que a Eloucona escreveu seu famoso artigo, um dos muitos que conclamava "o país" a lutar contra o monstro que mataria gays e negros. Do outro lado, o pessoal abominava a maldade concreta do petismo. Nessa luta, continua tudo igual. Os candidatos a exorcista, claro, são o BEM. Consideram-se liberados de todo tipo de exame. Sobretudo o mais complexo, que é o autoexame. Em meio a uma atmosfera de Idade Média, até um Luciano Bivar sente-se à vontade para fazer pose de terceira via para a Renascença.
A terceira via sempre foi um discurso vazio e sem futuro, uma fantasia. A escolha nunca deixou de ser entre Bolsonaro e o petismo, agora reforçado por algumas personalidades que desceram do muro pelo lado esquerdo. E por um certo tribunal.
Acontece que Bolsonaro não é o principal perigo. O que apavora são os 30% de eleitores que se dispõem a renovar o mandato da insensatez. Muitos continuam chamando a insanidade de mito. O desprezo dos adversários a Bolsonaro ainda não contagiou os eleitores que o toleram, amam ou idolatram.
Deixando o percentual de lado, insensato mesmo seria trazer a quadrilha petista de volta ao poder. E desprezo é o que eles dizem sentir, mas um nome melhor seria ódio. Por que tanto ódio, o que Bolsonaro fez de tão errado para representantes do "BEM" como você e o Barroso, Josias? Ou seu discurso não está quase idêntico ao deles? Não seria uma boa ideia começar o autoexame por aí? A verdade é que Bolsonaro é apenas um primeiro sintoma. A doença está na facilidade hedionda com que um pedaço da sociedade escolheu viver no reino da estupidez golpista, onde a autoridade viril resolverá todas as suas psicoses com o providencial auxílio de uma cada vez menos invisível "manus militaris".
E eu esperando que ele fosse reclamar dos gays e negros mortos, da corrupção sem limites, do desastre econômico. Nada disso, o problema são as "psicoses" de quem está vendo a máquina de interesses contrariados (na imprensa e outros lugares) se mover para retirar quem não lhe agrada do poder. Emergências nacionais como a miséria, o desemprego e a inflação tornaram-se asteriscos diante de necessidades como a distribuição de armas, o indulto de malfeitores, o insulto a magistrados e a defesa de uma apuração paralela das urnas pelas Forças Armadas. Como a Covid não mata tanto, a fraude eleitoral virou a nova cloroquina.
Josias, leia mais seu jornal. Ele passa os dias esquecido de que houve uma pandemia que afetou o mundo todo e atribuindo o desemprego, a inflação e os demais problemas trazidos por ela ao presidente. O discurso só não está colando como você gostaria. Quanto ao resto, pense na "descondenação" fraudulenta do criminoso e na perseguição às pessoas por "delito de opinião". É Bolsonaro quem faz isso? Ou ele se opõe a isso?
Ainda não surgiu uma explicação plausível para o poder de sedução que a irracionalidade do mal exerce sobre quase um terço do eleitorado. Mas uma constatação vai se tornando incontornável: seja qual for o resultado da eleição, o bolsonarismo não voltará para o armário. Ele sobreviverá às urnas de 2022.
Colocando as coisas assim, é evidente que você não encontrará explicação alguma, mestre. Experimente tentar trazer fatos reais para o debate, tente pensar no que seria o retorno do tucanopetismo, na eternização de um STF politizado à esquerda. E esse movimento que "não voltará para o armário" não acontece só aqui, outro dia falaremos sobre isso. Numa democracia que se deixa roer por dentro, parte da sociedade passa a enxergar o Mal como uma perversa e excitante forma de "liberdade".
Acho que eu já vi isso em algum lugar. O sujeito tenta criticar Bolsonaro pela tirania, depois pela má gestão, depois... No fim, sem argumentos, se resigna a dizer que ele é o filho do demônio, o Mal com maiúscula de Josias.
Um Mal que defende a condenação de criminosos (de verdade) contra um BEM que os liberta e acha errado prender quem mata para roubar um celular, que praticamente zera a corrupção contra quem a institucionaliza. Ah, acho que Josias está querendo dizer que o malvadão ainda vai fazer o grande mal. Escalaram o colunista errado. Chamem a Eloucona que ela sabe o que escrever!
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