Numa rara concessão à hierarquia dos fatos, ao entrevistar o pastor renegado que se tornou o responsável por "falar com os evangélicos" em nome do irregularmente descondenado, o UOL salientou sua confissão de que a esquerda precisa esconder o que pensa se quiser voltar a colocar as patas no cofre novamente.
Nada de casamento gay, doutrinação nas escolas, censura, dinheiro público a rodo para os amiguinhos, governo mais bolivariano com "conselhos populares" e essas coisas todas. Fiquem quietos que ele vai cuidar do assunto, falando diretamente com os evangélicos em shows com cantores e lives na Internet.
Seu tema será dizer que na época do larápio estava bom. Na época do primeiro governo do malandro, bem entendido, porque foi ali que o boom das commodities fez países como o nosso experimentarem uma onda de prosperidade que bem ou mal se espalhou para as suas populações.
É uma aposta na ignorância de amplas parcelas do eleitorado. Para cair nessa conversa, o sujeito precisa desconhecer que o governo petista fez com que o Brasil fosse um dos países que menos aproveitou aquela onda. Nosso crescimento em comparação com similares nunca foi tão baixo quanto durante o lulopetismo.
O eleitor ainda precisa ter uma memória seletiva, que o faça lembrar só do início do petismo e não do seu desastre final. E que não o leve a perguntar por que, se tudo dependia do nove dedos e não da situação internacional, o grande governante permitiu a recessão do final do seu governo e o desastre que empurrou para depois.
Mas esse é o discurso geral do petismo, ele sempre mira a ignorância que tanto cultivou com seu desastre na área educacional. A especificidade em relação ao público evangélico é a tentativa de levá-lo a votar contra os valores em que acredita (ou gostaria de acreditar) em troca de encher mais o bucho.
Trata-se de uma versão moderna de "no Egito éramos escravos, mas nos fartávamos nas panelas de carne, vamos voltar para lá". Com o agravante de que o eleitor precisaria esquecer que no final já não era assim e desta vez o faraó ladrão dificilmente teria a sorte que teve na primeira e desperdiçou.
Além disso, permanece a questão de fundo: o discurso será ouvido? Lives petistas quase ninguém assiste. Show eles acabaram de torrar dinheiro público para fazer um no Pacaembu, com a presença do próprio ex-presidiário e com um público de causar vergonha a candidato de terceiro escalão.
Pouco adianta o advogado ter uma excelente linha de argumentação se lhe derem cinco minutos para expô-la contra cinquenta horas do defensor da causa oposta. Do outro lado estarão os pastores, os "farofeiros" que o molusco trata com desdém, falando todos os dias com os fieis e dizendo em sua grande maioria o que ele não quer ouvir.
Talvez o ídolo barbudo ainda consiga abduzir algumas almas. Mas parece mais provável que não precise nem cair maná do céu para desmentir suas falsas promessas. Um pouco de farofa já pode resolver o assunto.
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